22/08/2023
Geral

Levantamento independente indica aumento no desmate da Amazônia

Uma área equivalente a qua­tro Curitibas foi desmatada na Amazônia nos últimos dez meses. Numa região de dimensões continentais, o número não entra na lista dos desflorestamentos mais relevantes registrados na última década. Contudo, o indicador mais preocupante para o Instituto de Pesquisa Imazon, que realizou o levantamento, é a inversão na tendência: desde 2004 havia uma sequência de quedas nos índices de devastação de mata nativa e, do ano passado para cá, a curva se inverteu e voltou a indicar aumento nas proporções da derrubada.

Além do Imazon, há outros dois sistemas de detecção de desmatamento em território amazônico, ambos coordenados pelo governo federal. O Prodes, que é mais detalhado e consegue identificar desmates em áreas menores, é anual e no último relatório, divulgado recentemente com dados comparativos entre 2011 e 2012, indicou que está diminuindo a derrubada. Já o Deter é mensal e registra que a quantidade de área desmatada está em alta no último ano.

Na comparação de agosto de 2012 e maio de 2013 e o mesmo período no ano anterior, o tamanho da área derrubada aumentou 89% ­– passando de 873 km² para 1.654 km². Proporcionalmente, foi o estado do Amazonas, com 140% a mais de desmate, que registrou o maior aumento. Em área derrubada, contudo, os estados do Pará e do Mato Grosso é que concentram a maior parte da devastação. O avanço da fronteira agropecuária, com a extração de áreas nativas para a transformação em lavouras e pastagens, seria o principal fator de pressão sobre a Amazônia, na opinião do engenheiro ambiental e pesquisador do Imazon, Heron Martins.

O Imazon começou a perceber a inversão na tendência a partir de agosto de 2012. “Os próprios dados do governo já estão indicando uma ten­dência de aumento no des­mate”, comenta Martins. Pa­ra ele, a divulgação de uma informa­ção mensal e atualizada precisa servir de alerta para que ações sejam tomadas. Contudo, o pesquisador conta que é perceptível no mapeamento que quando o combate ao desmatamento se acentua em uma determinada área, há a migração dos criminosos para outras regiões conservadas. “Também temos notado menos desmatamento de grande porte e mais casos isolados”, diz.

Martins explica que boa parte dos registros de desmate acontecem a partir de junho – reforçando o alerta para que medidas sejam tomadas. Durante os primeiros meses do ano, o clima chuvoso dificulta o trabalho da derrubada e a floresta fica mais resistente ao fogo. Além disso, mais nuvens cobrem a região, atrapalhando a detecção dos casos.

 

Cristina Esteche

Jornalista

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