Brasília – O produtor rural brasileiro depende de crédito, de custos reduzidos e de obras de infraestrutura para se recuperar dos prejuízos. É o que diz o relatório da comissão que estuda o impacto da crise econômica mundial na agricultura, apresentado pelo deputado federal Abelardo Lupion (DEM-PR), que será votado nesta quarta-feira, 15, em Brasília.
O relatório é uma radiografia do setor agropecuário em tempos de crise. O estudo elaborado pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados descreve os efeitos da falta de crédito no mundo e o impacto do problema na agricultura brasileira.
O documento traz uma análise detalhada dos principais segmentos do agronegócio, feita a partir de audiências públicas realizadas com especialistas, representantes do setor e do governo. Segundo o deputado federal Abelardo Lupion, presidente do Democratas no Paraná, a situação é preocupante. Vamos ter problemas no abastecimento de álcool no Brasil. O mundo não está comprando álcool; automaticamente, os produtores, em vez de álcool, vão produzir açúcar, que está dando para exportar. Dentro de cada um dos produtos nós teremos os nossos problemas. Exemplo: o trigo. No ano passado, o governo incentivou o plantio mas não resgatou o produto com preço mínimo e o triticultor paranaense teve prejuízo. O milho: nós tivemos um problema sério na safrinha e tivemos o preço aviltado porque o governo não entrou comprando no momento certo, não deu crédito de comercialização. São problemas que estão no relatório e que nós precisamos resolver.
Lupion explica que a falta de financiamento ou atraso na liberação de recursos podem comprometer ainda mais a safra 2009/2010. O governo está liberando os recursos na época errada e o produtor não está encontrando na iniciativa privada, nas traders, os recursos necessários para plantar na hora certa. Ainda segundo Abelardo Lupion, a infraestrut ura precária encarece a produção brasileira. Apesar de termos a melhor logística do Brasil, o Paraná tem problemas sérios em termos de portos, acrescenta.
Para o deputado, o produtor investe em tecnologia mas os altos custos de produção comprometem os resultados. Se nós não conseguirmos resolver, imediatamente, o problema do endividamento, da infraestrutura, termos mais agressividade ao colocar os produtos brasileiros no exterior e não conseguirmos dar respeito ao produtor rural, não vamos conseguir fazer com que esse país ocupe o espaço que o mundo está nos oferecendo hoje.
O cumprimento integral de novas exigências ambientais também pode acabar com importantes regiões produtoras, causando risco de desabastecimento, alerta Lupion. O Brasil pode se transformar de grande exportador em grande importador porque a Lei do Meio Ambiente nos proíbe, a partir de dezembro, de plantar nas várzeas. Como vamos fazer? Esse aspecto precisa ser estudado. Nós fizemos uma lei para isso.
Para minimizar os prejuízos, o relatório sugere medidas ao governo federal, através de três propostas de emenda à constituição e de seis projetos de lei para o setor. O primeiro trata da equalização das taxas de juros dos bancos privados às praticadas pelos bancos oficiais e cooperativos no crédito rural. O segundo estabelece a prorrogação do pagamento das parcelas de 2009 renegociadas através da Lei do Endividamento Rural.
Outro projeto de lei prevê o fim da cobrança do adicional ao frete sobre a importação de fertilizantes. A comissão também vai propor o pagamento prioritário aos produtores rurais que entregaram produtos agropecuários em até 30 dias antes da recuperação judicial de uma empresa. Há um projeto para acabar com a cobrança de PIS e Cofins sobre a importação e comercialização do sal e de rações. E a sexta proposta prevê a obrigatoriedade de uso de 40% de leite de forma fluida no programa nacional de alimentação escolar, para fortalecer a produção em algumas regiões.
O relatório deve ser votado nesta quarta-feira em Brasília.