Mais peraltices de Ravengar

Na Velha Rapapé, todo mundo está careca de saber que Ravengar, tesoureiro de Dom Cacá, o sumido cacique do burgo, não faz absolutamente nada, mas incomoda uma barbaridade. Por suas ligações de compadrio com Dom Cacá, Ravengar se acha membro da nobreza e, como tal, com direitos hereditários sobre o poderio do cacique do burgo.

Se considerarmos que uma cidade é também espelho de sua Administração, a Velha Rapapé nem nasceu ainda para o Mundo Moderno. Do ponto de vista das relações sociais, nada funciona. Dom Cacá vive entocado no Paço da Barrosa, sede oficial do Burgo, ou na sua residência, de onde faz despachos e negociações nada oficiais, embora envolvam altíssimos recursos públicos.

Já Ravengar tem pose de impoluto. Age sempre na sombra, mas sua necessidade de auto-afirmação é tão demasiada que a todos os seus interlocutores faz questão de mostrar que ele também tem a chave e o segredo do cofre. Outra habilidade de Ravengar é a matemática financeira: é muito hábil na conta de dividir e das porcentagens.

Como um legítimo da nobreza da Velha Rapapé, Ravengar adora jantares regados a comidas e bebidas caras. Porém, o que ele mais gosta, mesmo, é usar as chaves da tesouraria para transformar os súditos de Dom Cacá em seus súditos também. Como nenhum destes se iguala à sapiência de Dom Cacá, Ravengar trata-os aos gritos, xingamentos ou desqualifica-os.

Bizarra foi aquela festa com os Membros do Episcopado da Velha Rapapé. Nem nossos futuros santos ficaram imunes a Ravengar, obviamente que crentes da sua inolvidável benevolência. A festa era num Dia Sagrado, e a camarilha administrativa da Velha Rapapé fora chamada para auxiliar no evento, patrocinando a vinda de um cantor sacerdotal.  

– Estão todos comprados – comemorou Ravengar, contando nos dedos a hora de revelar mais uma de suas façanhas a Dom Cacá. Tudo devidamente registrado.

E assim seguia a rotina na Velha Rapapé. Num faz-de-conta onde tudo termina em pão e circo.