22/08/2023
Agronegócio

Malte Agrária: a excelência do campo ao copo

Às 19h30 de quinta feira um grupo de amigos se reúne num tradicional pub de Guarapuava e pede aquela que consideram a melhor cerveja do País. Ao ser servida, a uma temperatura de -4°C, o copo transpira na ação física do frio da bebida com o calor ambiente e do vidro do copo.

Após os primeiros goles e o tradicional “ahhhhhhhhhh”, os amigos rasgam elogios para a bebida. E logo fazem análises da sua composição através do rótulo da garrafa e descobrem que é fabricada em Petrópolis, cidade do Rio de Janeiro muito conhecida pela indústria cervejeira.

Porém, um detalhe passa batido nas informações do rótulo: o malte, um dos principais ingredientes para a fabricação da cerveja, utilizado naquela marca, é produzido pela Cooperativa Agrária, em Entre Rios, Guarapuava.

CEVADA

Mas o caminho para se chegar ao malte de qualidade foi longo e necessitou de muito investimento, paciência e perseverança dos produtores. As primeiras plantações de cevada foram incentivadas pela Cooperativa Agrária no distrito de Entre Rios em 1973. Naquele ano, os produtores que apostaram na novidade atingiram a produtividade média de 1,5 tonelada por hectare.

O produtor Ernest Milla, que reside na Colônia Vitória, aponta o surgimento da indústria cervejeira como o grande salto para a cultura da cevada em Guarapuava. “Até chegar a indústria cervejeira nós plantávamos, antes de 1973, cevada para usar como ração para o gado. Com a chegada da indústria, que trouxe a cultivar A1, nós passamos a profissionalizar o cultivo e a produtividade saltou para cerca de 2,5 toneladas por ano”, explicou.

A família de Milla plantou este ano (2013) 1.400 hectares com cevada. “A garantia de mercado, que foi uma conquista dos cooperados da Agrária que lutaram para ter a Agromalte, é o principal fator que nos leva a investir nesta cultura de inverno. Nos últimos 10 anos, entre cevada, trigo e aveia, a cevada teve mais benefícios entre as três culturas de inverno. Ainda temos muito a evoluir na questão de genética, mas estamos no caminho certo e a cultura tem apresentado ótimos resultados aos produtores”, disse Milla.

COLHEITA EM TRÊS SEMANAS

De acordo com Noemir Antoniozzi, responsável pelas pesquisas de cevada da Agrária e com uma experiência acumulada de 30 anos no setor, a projeção da Cooperativa é chegar a 2023 com uma produtividade média de 5,5 toneladas por hectare. “Essa produção ainda está longe da média da Alemanha, por exemplo, que gira entre nove e dez toneladas por hectare. Porém, lá (na Alemanha) há apenas uma cultura anual e todos os investimentos são destinados para ela (a cevada), sendo que naquele país a cevada passa cerca de quatro meses sob a neve e depois brota. No Brasil nós temos duas culturas anuais, a cevada e a soja. No valor acumulado, a produção brasileira é mais rentável que a alemã”, explicou.

O pesquisador avaliou ainda que, desde a década de 70, quando iniciaram as pesquisas com melhoramento de cevada no Brasil, o rendimento médio das lavouras passou de 1.700 kg/ha para 4 mil kg/ha. O teor de proteínas, indicativo de qualidade para a indústria, reduziu de 14 para 10% e o extrato de malte passou de 80 para 84% (avaliação com base nas sete cultivares mais plantadas no estado do Paraná no período 1973-2013).

PRODUÇÃO

Confira a evolução da produtividade da cevada na região de Guarapuava entre 1973 e 2013 e a estimativa de produção por hectare para 2023.

ANO

MÉDIA DE PRODUÇÃO POR HA

1973

1,5

2013

4,5

2023

5,5

Atualmente, cerca de 300 famílias de cooperados da Agrária cultivam cerca de 37.000 hectares em média com cevada.

GENÉTICA

Noemir comandou por 17 anos os campos de cevada da cervejaria Antarctica e diz que o sucesso da cultura na região de Guarapuava se deve aos investimentos gradativos em genética e manejo.

Sem conseguir disfarçar o brilho nos olhos quando fala do assunto, Noemir diz que a Agrária implantou junto aos produtores uma filosofia de produção inovadora. “A cevada requer atenção permanente dos produtores. O manejo é fundamental, pois não adianta investir em tecnologia de ponta e não cuidar a lavoura. Quanto mais investimentos e cuidados os produtores tiverem, melhor será a produtividade e, principalmente, a qualidade da cultura. Nós implantamos a filosofia de excelência do campo ao copo. Ou seja, os produtores passam a se sentir responsáveis pela produção de uma cerveja de alta qualidade, pois quanto melhor a cevada, melhor será o malte e, conseqüentemente, melhor será a cerveja. Eles assimilaram isso e todos se sentem parte do triângulo produtivo: cevada, malte e cerveja”, explicou.

Para atingir a excelência produtiva, a Agrária mantém parcerias com a Embrapa Pesquisas e atualmente possui mais de 10.000 parcelas de cevada em experimento no campo. “Para chegar ao estágio atual, foram realizados diversos cruzamentos genéticos, principalmente com cultivares da Alemanha. A cada ano estamos buscando aprimorar essas cultivares, adaptando-as ao clima e solo e buscando aumentar a produtividade e a qualidade do produto”, disse o pesquisador.

A Agrária também mantém parceria com a AB InBev, uma companhia de bebidas Belga-Brasileira formada em 2004 através da fusão da empresa brasileira Ambev e a belga Interbrew, com quem também troca experiências para constante melhoria genética.

Questionado sobre a qualidade de cervejas, Noemir disse que o malte da Agrária é diferenciado e muito procurado pelas cervejarias. “Minha cerveja preferida é uma produzida e distribuída no Rio Grande do Sul, mas que utiliza o malte produzido aqui”, confessou.

CRESCIMENTO

O presidente da Cooperativa Agrária, Jorge Karl, demonstra otimismo com o mercado de malte. “Nós estamos ampliando a nossa maltaria e isso também vai requerer um aumento na produção da cevada. Hoje, toda a cevada produzida na região da Guarapuava é consumida na maltaria da Agrária. Se houvesse mais produção, com certeza também seria absorvida. Com os planos de expansão da indústria também estamos incentivando o aumento na área cultivada. A garantia de colocação da produção no mercado nos assegura essa possibilidade de incentivo também no aumento da produção”, afirma Karl.

A Cooperativa Agrária tem como regra de mercado não divulgar as estatísticas de importação de cevada e nem do percentual de utilização da cevada cultivada na região em relação à importada.

Para explicar a qualidade do malte, Jorge Karl também utiliza a cerveja como exemplo. “Todo brasileiro gosta de cerveja. Durante anos o vinho sempre foi a bebida geradora de eventos gastronômicos. Hoje, pelo gosto popular, a cerveja está ganhando o seu espaço entre os degustadores da bebida. E quando o malte é da Agrária, a diferença entre as cervejas é grande. A Agrária se destaca muito na qualidade. Se o malte é Agrária, toda cerveja é boa”, concluiu o presidente.

WINTERSHOW

Para contribuir com a constante evolução genética da cultura da cevada, entre a última quarta feira (16) e hoje (18), a Cooperativa Agrária realizou a 10ª edição do Wintershow.

Durante o evento, os produtores tiveram acesso ao que há de mais moderno em termos de produção, tanto nas questões de genética quanto de insumos e equipamentos agrícolas. 

Cristina Esteche

Jornalista

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