22/08/2023
Região Saúde Segurança

Médica atende criança de 6 anos e pai a desacata em Pitanga

A médica orientou a internação da criança após exames. Porém o pai disse que o filho não ficaria no hospital e ainda desacatou a mulher dizendo que ela era uma péssima profissional

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A criança apresentava dores no peito, por isso a médica orientou que ela ficasse internada (Foto: Reprodução/Pixabay)

*Reportagem atualizada para inclusão de resposta às 14h15 do dia 27/12/2022.

Um homem de 46 anos desacatou uma médica após ela atender o filho dele de 6 anos no Centro de Pitanga. Durante a manhã desse sábado (24) a médica plantonista do hospital São Vicente de Paulo entrou em contato com a Polícia Militar pelo 190.

Ela relatou que por volta das 5h28 o pai chegou ao hospital companhado do filho. A criança apresentava dores no peito. Após exames, dentre eles um eletrocardiograma que segundo a profissional da saúde, apresentou uma pequena alteração, ela indicou que o menino deveria ficar internado. Isso porque ele precisava do atendimento de um pediatra.

No entanto o pai da criança começou a alterar o tom de voz, dizendo que a criança não ficaria internada. Ele ainda disse em tom de ameaça que a mulher era uma péssima médica e que ela não sabia o que estava fazendo. Em seguida o suspeito também desacatou o recepcionista de 26 anos, o qual testemunhou a reação do homem após o resultado dos exames do filho.

Após o desentendimento o homem e acriança foram embora. Devido o ocorrido, os policiais fizeram um boletim de ocorrência e orientaram a profissional quanto aos procedimentos e prazo para representação contra o homem.

RESPOSTA

O pai da criança, Willian Alessandro Rocha, entrou em contato com o Portal RSN nesta terça (27) e apresentou o direito de resposta. Ele é morador de São Paulo, mas viajou com a esposa e os dois filhos neste fim de ano para visitar os familiares que moram em Manoel Ribas e Pitanga.

De acordo com a nota apresentada por ele, na madrugada do dia 24 de dezembro por volta das 4h45, eles estavam pernoitando no sítio do sogro dele na área rural de Pitanga, quando o filho de seis anos acordou reclamando de dores no peito. Confira a nota:

Em razão disso, minha esposa e eu procuramos ajuda médica junto ao hospital mais próximo, o Hospital São Vicente de Paulo, no Centro de Pitanga. Ao chegar ao estabelecimento de saúde, por volta das 05h13, fomos atendidos pelo Enfermeiro Willian, que estava sozinho no local no momento. Ele fez a função de recepcionista e, de imediato, comunicou a médica que estava de plantão no hospital. Logo após, o referido enfermeiro convidou o meu filho para fazer o atendimento prévio, fazendo o exame de eletrocardiograma. Logo em seguida, percebi que o enfermeiro entrou novamente em contato com a médica.

Alguns minutos mais tarde, o enfermeiro pediu para outra enfermeira (de nome desconhecido), que havia chegado ao local, ir chamar a médica para prestar o atendimento de socorro ao meu filho e à outra paciente, que havia chegado alguns minutos após meu filho. Disse o enfermeiro à outra enfermeira: “por favor, vai lá bater na porta e acordar a doutora, que ela precisa vir atender os dois pacientes”.

Na sequência, o enfermeiro Willian nos avisou que havia uma alteração no exame cardiológico do meu filho e que estava novamente ligando para a médica plantonista, dada a situação de emergência do meu filho e da outra paciente que estava no local (com severa crise de enxaqueca). 

Foi perceptível que o enfermeiro Willian estava apreensivo com a demora da médica plantonista. Foi possível ouvir a última ligação do enfermeiro à médica, em que aquele expunha a esta que precisava dela com urgência no pronto-socorro do hospital. Em razão da demora na chegada da médica plantonista, questionei o enfermeiro Willian se eu poderia deslocar meu filho para outro hospital, ao que ele me disse que eu somente poderia sair após assinar um termo de responsabilidade.

Logo na sequência, por volta faz 06h10, a médica (de nome desconhecido até o momento deste direito de resposta) chegou ao pronto socorro, com visível sonolência (estava bocejando) e mau humor. Iniciou o atendimento do meu filho de forma precária no próprio corredor, sem ao menos colocá-lo numa maca para examiná-lo. 

Na sequência, a médica plantonista foi atender a outra paciente e retornou à recepção, onde estava o enfermeiro Willian, passando-lhe orientações e prescrevendo medicação para a outra paciente. Foi possível perceber que o enfermeiro alertou a médica de que ela estava prescrevendo medicação em duplicidade à paciente. O esposo daquela paciente questionou a médica quanto à medicação via injeção, dizendo que a enxaqueca era recorrente e nas outras ocasiões o quadro de dor foi controlado via soro.

A médica ficou visivelmente alterada e respondeu ao esposo da paciente, de forma grosseira, que ela era a médica e é ela quem decide qual procedimento adotar. Na sequência, a médica voltou ao atendimento do meu filho, em meio ao corredor, dizendo que ele tinha um problema no coração (um bloqueio) e que iria encaminhá-lo para um cardiologista ou um pediatra e, consultando o recepcionista (também de nome desconhecido, que havia chegado ao local alguns minutos antes da médica), disse que iria internar meu filho até a chegada de um cardiologista ou pediatra. 

Questionamos, então, qual o horário da chegada do cardiologista ou pediatra, ao que o recepcionista nos disse que chegariam por volta das 9h ou 10h, mas ainda dependeria do contato prévio. Minha esposa questionou a médica se ela iria medicar meu filho, obtendo como resposta que meu filho não seria medicado e seria internado só para aguardar a avaliação do pediatra ou cardiologista.

Em razão disso e considerando todo o cenário de visível instabilidade emocional da médica plantonista, aliada ao fato de que meu filho somente seria atendido por um especialista cerca de três horas depois, conversei com minha esposa e decidimos que iríamos levar meu filho para o Hospital Bom Jesus, no município de Ivaiporã.

Ao informar, de forma respeitosa, tal decisão ao recepcionista e à médica, esta disse que não se responsabilizaria se ocorre algo com meu filho no trajeto. Nós mantivemos a decisão de levá-lo ao outro hospital e solicitamos cópia do exame de eletrocardiograma, que nos foi negado pelo recepcionista e pela médica. 

Argumentei que o acesso ao exame do meu filho é um direito assegurado pela Lei Geral de Proteção de Dados (Lei 13709/2018). A propósito, o artigo 6º, IV da referida lei prevê o princípio do livre acesso, consubstanciado na “garantia, aos titulares, de consulta facilitada e gratuita sobre a forma e a duração do tratamento, bem como sobre a integralidade de seus dados pessoais”. 

Ao questionar sobre o aspecto legal e verificando a arbitrária recusa na entrega de cópia do exame do meu filho, afirmei que o acesso é um direito meu e que, se necessário, buscaria auxílio policial para fazer valer o meu direito e do meu filho. 

Ao ouvir isso, a médica partiu em minha direção com o dedo em riste, a poucos centímetros do meu nariz e passou a falar em voz alterada e dizendo que eu a estava desacatando. Sem alterar minha voz, pedi para a médica baixar o dedo, pois aquilo não era necessário e que eu não a estava desacatando. Na sequência, a questionei pela demora no atendimento, ao que ela continuou gritando comigo em frente à minha esposa e ao meu filho.

No calor do momento, disse à médica que ela estava sendo uma péssima profissional com aquele tipo de atendimento. Ao ouvir isso, a médica disse: “então porque trouxe seu filho aqui, vaza daqui!”. No momento, pensei em acionar a força policial, mas preferi atender à ordem da médica de sair do hospital, até mesmo porque meu filho precisava de atendimento, razão pela qual não faria sentido ficar naquele local, discutindo com a médica, em vez de buscar o atendimento necessário ao meu filho. 

Saí do Hospital São Vicente de Paulo por volta das 6h27 e cheguei ao Hospital Bom Jesus, em Ivaiporã, por volta das 07h21, onde meu filho foi atendido por um médico especialista. Essa é a verdade dos fatos. Apenas exigi a satisfação do meu direito de acesso ao exame e busquei auxílio médico em outro local, pois não estava me sentindo seguro em ver meu filho ser atendido por uma profissional que demonstrava sonolência e desequilíbrio emocional.

Além de saber que ele somente seria atendido por um especialista por volta das 9h ou 10h. A propósito, meu filho foi atendido por volta das 8h/08h30 por um especialista em cardiologia (Dr. Siqueira) em Ivaiporã, que exarou parecer no sentido de que o exame estava compatível com a idade do meu filho e que as dores seriam atribuídas a esforço físico no dia anterior.

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Antunes

Jornalista

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