Há cinco anos uma equipe atua diuturnamente para amenizar o sofrimento de pacientes, muitos deles, em estado terminal. O programa federal Melhor em Casa atende a domicílio, amenizando a dor de pacientes e familiares.
A convivência com as perdas, já que poucos se recuperam, faz parte do cotidiano dos profissionais envolvidos com o programa, que atende neste ano, 102 pacientes, indo de casa em casa. A maioria (60%) são mulheres e 77% do público atendido tem idade igual ou superior a 60 anos. O trabalho silencioso que possui um grande cunho social, em muitas vezes, é paliativo.
De acordo com a nutricionista e coordenadora do programa, Maria Theresa Melhem Pellissari, o paciente pede para deixar o hospital para morrer em casa, na sua cama, junto coma família. “Aí entra a nossa equipe com psicólogo, médico, nutricionista, fisioterapeuta, enfermeira e técnicos em enfermagem, que trabalha de domingo a domingo, sem ter hora. A nossa retaguarda é o Samu para um eventual internamento”.
Mas chegar numa casa de pessoas desconhecidas, invadir o seu espaço e se adaptar à cultura da família é um dos principais desafios da equipe. “O nosso trabalho é invasivo e temos que nos adequar ao que a doença nos oferece. Se no hospital temos tudo ao nosso alcance, em casa precisamos nos virar com o que temos, mas sabemos que o tratamento domiciliar é muito melhor à recuperação do paciente”.
Curativos, medicamentos, orientações para alimentação, consultas, atenção especial aos cuidadores são algumas das tarefas executadas pela equipe.
“Na maioria das vezes, apenas uma pessoa cuida do paciente e merece a nossa atenção”. Por isso, uma vez por mês, num sábado a tarde, os cuidadores se reúnem para uma roda de conversa para troca de experiências e café. “Eles precisam ver que essa dor não é apenas deles, que há outras pessoas que passam pela mesma situação”.
Nesses cinco anos de programa, comemorados nesta quinta (30), com solenidade e homenagens, a partir das 19h no auditório da Faculdade Guairacá, as perdas já somam 441 e são diárias. “Já perdemos quatro pacientes num único dia”.
Segundo Maria Theresa, a equipe já presenciou várias mortes assistidas ou humanizadas. Mas uma delas traduz muito bem o trabalho sincronizado do Melhor em Casa. “Foi uma senhora que morava na Vila Bela. “Quando chegamos lá a paciente já estava muito mal. Chamamos o Samu que chegou e tentou reanimá-la, mas não conseguiu. Quando estávamos saindo o padre estava chegando para fazer a sua parte. Aquelas cenas me marcaram muito e vi nelas o resumo do nosso trabalho, onde cada um faz a sua parte”.
HOMENAGEM
Na noite desta sexta (30) duas pessoas serão homenageadas. Uma delas é Risolete Staben, técnica de enfermagem que trabalhou no programa durante muito tempo. “Agora ela é nossa paciente”. Segundo Maria Theresa, o outro homenageado será o fisioterapeuta Afonso Godofredo que trabalhou a domicílio, sozinho, por muitos anos.