Cristina Esteche
Guarapuava – O menino que varia as ruas da cidade e coletava lixo reciclável, hoje escreve livros, profere palestras, é contabilista, fez pós graduação e MBA e criou um código de honra que rege sua vida. Para ele, coisas difíceis não são feitas para perdedores.
Paulo Sergio Buhrer perdeu a mãe aos nove meses de idade. O pai, serralheiro, não podia criar os cinco filhos e os entregou a familiares, recuperando-os mais tarde. "Eu fui o único a ser criado pela minha avó. Tive uma vida humilde, mas cercada de carinho e amor. Aos cinco anos, já vendia reciclável. O que eu ganhava, comprava material escolar."
O espírito empreendedor despertou cedo. "Aos 10 anos, quando vendia sorvete, colocava redes de laranja junto." Um dia, o irmão Toninho decidiu que Paulo deveria morar com os pais e conviver com os demais irmãos. "Entre os 10 e 14 anos, morei com meu pai e minhas tias. Aos 12, eu trabalhava num bar. Com 14 anos voltei a morar com minha avó". Nessa época, Paulo cursou datilografia na Escola Olivetti, do seu João. "O meu sonmho era trabalhar como auxiliar de escritório, mas abriu uma vaga para gari na Surg. Eu não sabia o que era e fui. Me surpreendi quando me deram uma vassoura e um carrinho para varrer ruas". Quando contou à avó, aprendeu uma lição que ele carrega junto de si. "Na sua humildade, minha avó me disse palavras sábias. Ela me ensinou que a vida é a arte de transformar ferro velho em ouro".
Paulo varria a rua Marechal Floriano Peixoto até a avenida Moacyr Julio Silvestri, e lembra que onde hoje está a nova Catedral, era um barracão da Surg. "Sempre me dediquei à profissão e um dia ouvi o seu Augusto – que era o responsável – dizer que aquele que não estudasse, não trabalharia em banco. Abriu um teste para a Caixa e sete meses depois fui contratado". Com o primeiro salário, aos 16 anos, realizou o sonho da avó ao comprar um fogão a gás e um armário. "Foi o momento mais lindo da minha vida".
O desejo de seguir em frente fez Paulo não desperdiçar nenhuma oportunidade, mesmo aquelas que não faziam parte da sua tarefa diária. "Quando decidi sair da Caixa, tinha oferta de seis empregos, mas como fazia o curso técnico de contabilidade, fiz a opção por trabalhar em escritório".
Mais tarde, o desejo de ter seu próprio escritório, porém, não deu certo. "Quebrei a cara, depois de ter ficado desempregado". Casado e com um filho, paulo não tinha dinheiro sequer para comprar leite. "Um dia, junto com meu filho, fui na mercearia da Dona Lourdes. Eu juntei R$ 14,90 e não deu para comprar um pacote de bolacha recheada que meu filho pedia. Nesse dia criei o meu código de honra sabendo que as coisas difíceis não são feitas para perdedores".
Paulo se formou em Ciências Contábeis, fez pós e MBA, se tornou consultor na área comportamental, dá curso de coach, hipnose e é autor do livro Se7e Problemas e um Segredo. Pai de três filhos, aos quais nada falta, ele se considera um vitorioso. "Não tenho dúvidas. Sou um vencedor, não pelas coisas materiais, mas por ter conseguido cumprir o meu código de honra".