22/08/2023
Brasil

Merecemos mais. Está difícil conter a maré

Merecemos mais.  Está difícil conter a maré.

A reflexão que proponho diz respeito ao tempo presente em que nos encontramos e quer ser um  apontamento  crítico em relação àqueles discursos que  tentam moldar nossas vidas e aspiram a validade categórica. É o caso do novo governo provisório.

Se já estava muito ruim, agora pode piorar, pelo menos em algumas áreas. Continuo defendendo novas eleições como a única saída para uma reunificação do País que seja minimamente razoável.

 O que aconteceu na prática não era a alternativa que desejava. Só na cabeça da cúpula deste governo provisório, de uma imprensa que virou partido político e de uma parcela de 20% que cultua ou tem sinergia com o pensamento de Bolsonaro e de mais alguns que preferem qualquer coisa menos o PT é que este governo reunificará o País.  

Para pessoas razoáveis, é um remédio amargo que, se pode fazer algo, será tão somente corrigir erros na direção econômica do País. A segunda grande questão que a grande maioria esperava [ que é o combate ao fisiologismo e à corrupção ], ao que parece, não virá.

Os sinais não são bons mesmo que forcemos uma situação um pouco diferente dado à necessidade de se ter algo melhor do que tínhamos até então.  Mesmo com o pouco que se pode ver e com um discurso que tem cheiro de discurso já dá para enxergar o horizonte deste governo provisório: um cenário que pode nos dar um fôlego na economia, mas que impõe uma agenda nefasta para todas outras áreas com as bênçãos de pentecostais e oportunistas de plantão em uma guinada sem freios para o oposto das escolhas sociais do governo anterior.

O cidadão comum querendo salvar-se do naufrágio da recessão ensaia avalizar um discurso enigmático que de um lado anuncia-se ser de salvação, mas não esclareceu exatamente quem de fato que nem todos serão salvos, mas apenas alguns oligois  e alguns aristois.

Não foi propriamente uma conquista da sociedade como quer alguns ufanistas, mas algo estranho que soa mais estranho ainda. De fato, vive-se um período mórbido.

Isto não tira a sentença de que o Governo que estava no poder, além de errar muito na direção econômica do País, cometeu danos irrecuperáveis ao patrimônio público com ações e cumplicidades diante do maior escândalo de corrupção já comprovado neste País. Não foi a imprensa que inventou os escândalos, embora alguns fundamentalistas insistam nesta tese. Os governos de Lula e Dilma, neste quesito, profissionalizaram uma prática errática e, de fato, precisavam urgentemente sair de cena pela porta dos fundos. O problema maior é que quem entra [mesmo que provisoriamente] se assemelha a injustos falando de justiça e jogam para o ralo o pouco de conquistas sociais que não pertenciam mais ao PT, mas ao Brasil e brasileiros e que sabemos foram difíceis de colocar em prática em um país que historicamente se acostumou a dar migalhas para aqueles que nunca tiveram propriedade.

Se ao menos concertarem o caos econômico em que nos encontramos, poderemos em breve mandá-los embora em um ‘vão-se todos’.

Não é possível que só eu e mais alguns enxergamos que Temer não inspira confiança. O discurso de combate à corrupção não é coerente com a nomeação de 04 Ministros citados na Lava-jato. A educação, infelizmente, passa a estar nas mãos de um democrata que tentou abortar ações afirmativas no STF.  Por sua vez o Ministério da Justiça nas mãos de um Ministro ultraconservador e especialista em reprimir estudantes que contestam o fechamento de escolas em São Paulo e, para piorar, um Ministro da Saúde Paranaense chamado Ricardo Barros que além de não ter qualquer relação com a saúde representa em nosso Estado o câncer na política. Isto para não citar outros casos.

Com exceção de um possível novo encaminhamento econômico, a única coisa que não feriu meu ouvido, mas que é difícil de acreditar é o esforço para manter a operação Lava-jato.  De resto, mais dos mesmos. 

Cristina Esteche

Jornalista

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