Por intuição no final da tarde de ontem, quinta feira (05), enquanto nuvens negras pairavam sobre a cidade e os pingos da chuva batiam forte contra a janela no alto do 14º andar do Edifício Araucária, comecei a refletir sobre os ídolos que tive, os que ainda estão na minha seleta lista de admiráveis. Lembrei que tinha dito que gostaria mesmo é de morar na mais primitiva tribo que há no ventre da África Mãe e meu pensamento me levou a lembrar de Nelson Mandela, a quem prefiro chamar de Mandiba. Tive vontade de escrever sobre ele, sobre a sua luta contra o apartheid, sobre a sua saga na prisão e a volta por cima que deu ao eleger-se presidente da África do Sul.
Porém, fui interrompida por um telefonema do jornalista Márcio Fernandes e a linha do meu raciocínio se foi. Desisti de escrever e ao chegar em casa recebi a notícia de que o prazo de validade de Mandiba neste plano tinha vencido.
Em silêncio, perdi um dos meus heróis enquanto o mundo perde um herói de verdade. Um homem que foi grande, íntegro, lutador, cidadão, suficiente para mudar o seu próprio destino, o destino do seu país. Um homem, negro, que colocando o preto no branco, mostrou na prática que é possível ter esperança quando se acredita na luta e se é capaz de sacrificar a própria vida em prol dos seus.
Mandiba se foi para um plano mais elevado, mas a sua energia permanecerá na mente de cada sul africano, na memória do mundo, a partir dos seus exemplos de perseverança, dignidade, resignação, força, fé e tolerância.
Posso dizer com convicção que Mandiba é sim o grande vencedor do bom combate, uma gloria para poucos. Afinal, os 27 anos de prisão nunca enfraqueceram a sua força, nunca o afastaram da sua convicção política, do seu ideal de igualdade. O seu grito ganhou eco, o grito do seu povo ignorou fronteiras. Mandiba deixou o cárcere, percorreu a África, o mundo, é prêmio Nobel da Paz, e elegeu-se presidente dando o maior exemplo de bondade, de tolerância, de liderança. Ao contrário da maioria que tem sede egoísta de poder, ensinou que a humildade e nobreza de caráter podem ser transformadoras. O seu governo foi paz, como se quisesse apagar o mar de sangue que cobriu o seu chão pelas atrocidades do apartheid.
Mandiba se foi e percebi que meus heróis morrem de overdose. Por porções exageradas de amor, humildade, tolerância, desprendimento, altruísmo, ânsia de liberdade e de igualdade. Pra mim fica o legado de um herói de verdade!