22/08/2023

Meus 15 minutos de fama

Uma antiga lenda, ou uma grande verdade, diz que todos nós temos na vida 15 minutos de fama. Eu tive os meus. Foi estranho e só senti que tive uns dois dias depois, mas que tive, tive.

Em 1996 o então governador Jaime Lerner promoveu uma grande festa “pra inglês ver” na região Oeste do Paraná. Ele promoveu os “Jogos Mundiais da Natureza”, um evento que era pra alavancar o turismo e o desenvolvi mento sustentável na região. Foi um tiro no pé, mas isso é assunto para outra crônica.

Os  Jogos foram promovidos entre os municípios lindeiros ao Lago Internacional de Itaipu, de Foz do Iguaçu até Guaíra. Cada município sede recebeu uma base, batizada de Base Náutica. O governo deu tudo aos competidores: passagens, hospedagem, transporte e, pasmem, até os equipamentos.

Foram atividades que fugiam da realidade, como cavalo no mato, bicicleta no mato, arco e flecha no mato, balonismo no mato, canoagem no mato, só faltou aquela que o meu avô mais gostava: k.gar no mato.

Enfim, fui escalado para cobrir as atividades de balonismo, pois na época chovia muito e eu era o az no volante em tempos de chuva.  Seguimos aqueles pontos coloridos no céu por quase uma semana. No último dia (até hoje não entendi as regras daquela competição, pois todos se ajudavam, bebiam junto, comiam junto, decolavam junto e pousavam junto) o ponto final foi a prainha do município de Missal. Na época, no jornal em que eu trabalhava, existia um uniforme específico para os jornalistas de campo, que era roupa preta (puta calor do cacete) e um colete amarelo com a logo do jornal.

Meu fiel escudeiro e acompanhante inseparável era o Ademir Santana, o “Batata”. Uma pessoa fantástica, mas um verdadeiro imã para problemas. Por exemplo, se estivéssemos em um evento com mais de 15 mil pessoas e estivéssemos no fundo das dependências e ocorresse uma briga na entrada, alguém iria gritar: FOI O BATATA.

Chegamos em Missal abaixo de chuva. Não, você não entendeu: ERA MUITA CHUVA. A pick up corsa era só lama. Não tinha onde não tivesse barro.

Quando chegamos, vi que a canoagem estava chegando e fui conversar com o Silvestre Quatrin, excepcional canoísta brasileiro. Enquanto isso, nada dos balões.

Depois de alguns minutos senti falta do Batata. Quando olhei para onde o carro estava estacionado, havia dois ônibus de turismo com mais de 100 estudantes. Pra piorar, vi o Batata cercado de meninas por todos os lados, e com cara de feliz. Agradeci o Quatrin pela atenção e fui atender o Batata.

Quando me aproximei, aquelas centenas de meninas começaram a me cercar, e o Batata gritou: “calma, é só autógrafo”. Todas elas tinham cadernos nas mãos, com centenas de assinaturas e acharam que com o Batata e comigo estavam tendo mais assinaturas de pessoas importantes.

Confesso que assinei uns dois ou três, talvez mais, sei lá. Não vem ao caso. Mas sofri para poder entrar no carro e mais ainda para puxar o Batata pro interior do veículo. Quando consegui arrancar ele ainda abusou mandando beijos e dizendo pra elas o quanto é importante estudar.

E nada dos balões. Eles pousaram em São Miguel do Iguaçu. Não tive coragem de ir atrás. Me salvei na redação com o Quatrin.

Eu e o Batata levamos mais de dois meses para criarmos coragem de contar essa história na redação. Pode imaginar o que houve. Ninguém acreditou e ainda viramos alvo de piadas.

Enfim, eu e o Batata tivemos nossos 15 minutos de fama. Ele mais que eu. Tá bom, assinei uns 30 cadernos, não muito mais que isso. 

Cristina Esteche

Jornalista

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