Morreu o médico Emiliano de Jesus Medeiros aos 78 anos de idade. Seu corpo está sendo velado na capela Mortuária Municipal e seu sepultamento acontecerá às 15 horas desta sexta-feira (26), no Cemitério Municipal. Emiliano lutava há anos contra o Mal Alzheimer, mas nos últimos dia uma pneumonia complicou o seu estado de saúde.
Dr. Emiliano chegou a Guarapuava ainda no começo da década de 80 e foi um dos primeiros médicos a clinicar no Hospital Santa Tereza. Médico conceituado, exemplo para os mais novatos pela sua experiência profissional, personalidade egocêntrica, sempre usou terno e gravata como vestuário que dentro do hospital ganhava um jaleco branco, impecável. Para fazer o receituário, Dr. Emiliano nunca dispensou uma almofada vermelha, de veludo, para apoiar o cotovelo sobre a escrivaninha. Em Guarapuava se casou com Ivete Lins, filha de tradicional família guarapuavana, com quem teve três filhos, dos quais um seguiu a carreira médica.
Porém, a carreira de sucesso foi substituída por escândalos, prisão, cassação do registro profissional pelo CRM (Conselho Regional de Medicina). A Clínica Santa Lucia, de propriedade do médico, localizada na Rua Getúlio Vargas, no centro da cidade, passou a ser um ponto para a prática de abortos clandestinos. O caso de maior repercussão foi o da jovem Tania Heesch que há 27 anos , no dia 23 de junho de 1985, morreu durante a realização de um aborto feito pelo clínico geral. Dentro do bolso da roupa da vítima, cujo corpo foi colocado dentro de uma ambulância e levado para Laranjeiras do Sul onde morava, foi encontrado o orçamento com o nome e o endereço da clínica. A autópsia comprovou que a professora morreu momentos antes do médico retirar o feto.
Esse é apenas um dos casos que envolveram o médico, que foi preso no dia 28 de setembro de 2006, por porte de medicamentos derivados de morfina e sob a suspeita da prática de abortos clandestinos. O mandado de busca e apreensão na clinica foi motivado por duas denúncias. Um dos casos envolveu a interrupção da gravidez de uma jovem de Ponta Grossa sem a autorização da gestante. Ela teria ido à clínica a convite do namorado para um exame de rotina. Antes, porém, uma adolescente foi até a Delegacia de Polícia Civil para registrar a ocorrência de um estupro que gerou a sua gravidez. A menina disse que precisava do boletim de ocorrência para obter um desconto no valor do aborto que seria feito pelo médico.
A morte de Tania Hessch, porém já tinha provocado a cassação do CRM do Dr. Emiliano, que embora fosse clínico geral , atuava como ginecologista e até cirurgião plástico. Em 2006 o CRM em Guarapuava afirmou que o médico não possuía nenhuma especialização. Mesmo assim, ele continuou clinicando normalmente perante uma liminar concedida pela Justiça, até que o Mal de Alzheimer o tirou de cena e o levou a um recolhimento domiciliar.