Guarapuava é uma cidade histórica que se desenvolveu devido a extensa diversidade cultural. Conhecida no Paraná como a ‘cidade mais gaúcha do Estado’, o município recebeu o título por conta da influência do Movimento Tropeirismo no crescimento da Região.
Por isso que a cultura gauchesca na cidade é tão marcante. O primeiro Centro de Tradições Gaúchas (CTG) de Guarapuava foi o Fogo de Chão, fundado em 1965, o nome do local deve-se, também, ao Movimento Tropeiro. Entre eles [os tropeiros] havia um acordo de que cada tropa que chegasse deixasse o fogo aceso para a próxima que viesse. Por isso, a Região ficou conhecida como ‘Terra do Fogo Aceso’.
Com o lema “Folclore e tradição, alma e uma nação”, o CTG Fogo de Chão desenvolve atividades artísticas e culturais. Além disso, prega o “culto ao incentivo às boas coisas do passado, em especial o tradicionalismo guarapuavano”. No município, com 24 anos, também há o CTG Chaleira Preta que atua promovendo a parte campeira, esportiva e cultural.
MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAÚCHO (MTG)
Conforme o site oficial do MTG, o marco inicial do Movimento remonta a vários momentos. Porém, a fundação do 35º CTG, em abril de 1948, o 1º Congresso Tradicionalista Gaúcho, em 1954, bem como a constituição do Conselho Coordenador, em 1959 respaldam na força do MTG.
Contudo, um ponto de partida importante refere-se a 1966, durante o 12º Congresso Tradicionalista Gaúcho. Isso porque, neste encontro, os representantes decidiram organizar a associação de entidades tradicionalistas constituídas. Dando assim, o nome de Movimento Tradicionalista Gaúcho, o MTG.
De lá para cá, o Brasil criou oito federações e uma Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha. No exterior há mais de 20 núcleos em que a cultura, história e os costumes do Rio Grande do Sul são vivenciados diariamente. A Confederação Internacional da Tradição Gaúcha reúne Brasil, Argentina e Uruguai na mesma ideia de preservação da cultura gauchesca.
HONRANDO A TRADIÇÃO
Jaqueline Novis, antes de tornar-se fonoaudióloga, vivia a cultura gaúcha desde criança. Atualmente ela é 1ª Prenda e Diretora Jovem na Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha e explica que o movimento tradicionalista possui uma estrutura administrativa e organizativa. Por meio disso se consolidou como um movimento sociocultural sem fins lucrativos.
Desse modo, socialmente, o MTG faz um resgate de manifestações folclóricas e regionais, atuando de forma significativa na preservação da cultura gaúcha e diferentes expressões. No entanto, desde a criação do Movimento há mais de seis décadas atrás, a sociedade passou por diversas transformações sociais e culturais. Por isso, Jaqueline, que também é Diretora das modalidades individuais de Música no MTG Paraná, diz que “não podemos fazer tradicionalismo como se fazia há 20, 30 anos atrás”.
O tradicionalismo deve construir para o futuro sem perdermos aquilo que caracteriza o tradicional enquanto conservação das manifestações regionais, culturais e folclóricas. O tradicional não precisa ser conservador e, sim, mostrar que a união de gerações fortalece valores e princípios para todos que se sentem ‘pertencentes’ dessa cultura tão linda e característica.
Muitas pessoas que continuam mantendo a tradição viva e honrando o Movimento Tradicionalista Gaúcho não migraram do Rio Grande do Sul para Guarapuava. A maioria são filhos, netos de gaúchos ou, ainda, apenas simpatizantes. Cleiton Marques é funcionário público e professor de dança. Ele conta que a tradição gaúcha entrou na vida dele aos doze anos, quando teve o primeiro contato com o CTG Fogo de Chão, onde criou vínculo com a dança.
Atualmente, ele desenvolve no município, por meio da Secretaria de Cultura um projeto que leva a dança de salão tanto às escolas, quanto aos espaços da comunidade. “Essas aulas são gratuitas para que a comunidade tenha o primeiro contato com a tradição gaúcha”.
É muito importante manter a tradição viva, passando o legado. Mas eu vou ser sincero, tem algumas coisas da tradição que a gente mantém e tem coisas que não precisam ser mantidas. A gente tem que evoluir com o tempo.
FAZ PARTE DO MUNDO DO HOMEM CAMPEIRO
Bruno Ricardo Ribeiro é outro ‘peão’ que mantém a tradição gaúcha por meio da dança em Guarapuava, desde 2012. Além disso, ele é promotor de eventos e organiza os bailes e domingueiras do CTG Fogo de Chão.
Influenciado pela mãe e amigos que participavam de grupos na cidade, ele vê a dança como uma forma de passar a cultura de geração em geração. “A dança, inclusive, é uma terapia que traz vários benefícios para a saúde. Pessoas de todas as idades podem estar dentro de um CTG e conhecer um dos lados bom da vida”.
Por isso, todas as sextas, Bruno organiza no CTG Fogo de Chão o grupo de danças Relembrando a Tradição, onde pessoas de todas as idades podem participar e aprender ritmos gauchescos.
REFAZENDO INVERNADAS
Seja dançando, declamando, tocando e cantando cada pessoa segue a tradição gaúcha de uma forma. Em abril o Portal RSN preparou uma reportagem sobre os meninos Tunico e Gabriel de 9 e 11 anos que já seguem as tradições. Conforme a reportagem, “eles não foram ‘criados em galpão’, no modo ‘xucro e bagual’, mas quando se trata de amor pela música gaúcha, os meninos dão um show”.
Isso mostra que a Tradição Gaúcha continua se perpetuando entre os jovens e impactando de forma positiva, como impactou na vida de Jaqueline. “Eu enquanto uma jovem prenda reconheço que o tradicionalismo impactou significativamente o meu desenvolvimento enquanto pessoa, e gostaria que todos aqueles, jovens, adultos, crianças, idosos, enxerguem o tradicionalismo com esse olhar terno, de admiração, de cultura, de arte e de amor”.
Quero que as próximas gerações tenham a oportunidade de vivenciar tudo que já vivenciei e certamente ainda vou vivenciar. A manutenção do movimento tradicionalista gaúcho acolhendo nossa realidade atual depende de cada um de nós que tanto fazemos e nos dedicamos por esse movimento.
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