22/08/2023

Mudanças e a arte do possível

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Haverá um dia em que nós, pais, professores, pesquisadores, políticos, derrubaremos os muros das escolas? Para que a escola seja um elo efetivo com a sociedade, para que o saber transborde como um rio caudaloso, para que estudantes-professores sintam-se como núcleos e não como apêndices.

É possível sonhar, esperar, ansiar, filosofar. O ser humano é movido por desejos; se somos seduzidos por vontades que o materialismo nos oferece aos borbotões, podemos, sim, construir sonhos e o intento de realizá-los, ancorados em valores morais elevados.

A socióloga Marilena Chauí define a utopia como a “arte do possível”. Duas pessoas acreditando já é o suficiente para se concretizar.

Almejar uma cidade diferente (um estado, um pais) é assumir a tarefa pessoal de ser também diferente daquilo que todos reputamos esteja errado. Ações que estão no dia a dia – na escola, no trânsito, no trabalho.

O político mal intencionado se vale da desorganização social. É imperativo, perseguidor, vingativo, egoísta, egolatra, egocêntrico. Considera-se “dono” da cidade, do estado, do país. O cidadão é um “visitante” do seu território. Os que discordam, são desertores ou invasores. Perseguidor, governa pela lei do talhão. No mesmo tempo em que vocifera, transformando súditos em massa de manobra, a serviço de suas idiossincrasias, ele sorri e afaga, mas a qualquer momento pode quebrar, romper, ignorar.

Os resquícios do totalitarismo estão aí, borbulhando como uma ferida gangrenada. E a sociedade,sentada na primeira fila, espectadora de suas próprias esperanças. É claro que compete ao gestor público, em qualquer nível, ser o propulsor  das mudanças. Não se espera o condão mágico, o botão que se aperta e tudo se trasforma. O político no comando da coisa pública pode ser o instigador, o cara que cutuca, o sábio que oferece a pesquisa, os meios científicos, o líder que reúne os grupos, o estadista que rege as múltiplas correntes do pensamento. Ou pode acovadar-se e usar a força, a intimidação, o poder do cargo como viés para a postração de um coletivo ou de um indíviduo.

Quando o conhecimento começa a ser propagado, a universidade se universaliza, os salões das igrejas se abrem, a praça é do povo, tudo se debate, tudo se aprofunda, a sociedade assume a condição da pluralidade que lhe é peculiar por natureza, a cultura aflora, a cidade oferece seus braços para acolher, cuidar, não há portões trancados nas escolas. Não é obra de um político. É a construção comunitária. Até o político se engrandece, pois é fruto dessa sociedade evoluída.

Para quem acredita em mudanças, a utopia continua sendo a arte do possível. Alguém mais acredita?

Cristina Esteche

Jornalista

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