22/08/2023


Mundo

Muhammad Ali: O lutador que se vai e o ídolo que nasce

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No bloquinho de anotação com o título “Coisas para fazer” escrevo: Coluna da RedeSul, logo em seguida paro, penso, dou uma olhada nas redes sociais, checo os sites de notícias esportivas e reflito: O que escrever?

Futebol, Basquete, Olimpíadas, Futsal, tem aquele tal de Cassius Clay que foi internado, tantas opções, bloqueio criativo… nada.

Outro dia, nova tentativa e o mesmo resultado.

Então chega a notícia que aquele tal de Cassius, também conhecido como Muhammad Ali, que outrora estava internado em estado grave, morreu no último dia 3 de junho. Assim, enfim encontro o assunto para esta coluna.

Confesso que não sou o maior conhecedor de boxe e de Muhammad Ali e por isso tive dificuldades em escrever esse texto, buscando justamente não ser hipócrita ou falso de falar sobre coisas que desconheço. Por isso recorri a uma ferramenta antiga dos jornalistas: a pesquisa.

Recordo-me que, não sei exatamente como, mas sempre soube da fama de Ali. Em pôsteres e blogs da internet sobre as grandes fotos do esporte de todos os tempos sempre havia algumas imagens de Muhammad (que fotogênico era esse rapaz).

Mais recentemente assisti em um desses programas de clássicos esportivos as melhores lutas de boxes da história e obviamente algumas lutas de Ali estavam ali, como a contra Frazier e a famosa “Rumble in the Jungle” diante de George Foreman no Zaire (por que raios Zaire? recordo-me de pensar isso)

Porém, depois de passar os últimos dias mergulhado em sua história consegui descobrir porque Ali era tão fotogênico, o porque da luta no Zaire e muito mais sobre a personalidade desse cara que definitivamente foi o “Melhor de todos os tempos”, como ele mesmo se definia.

Ali não foi só o melhor dentro do ringue, mas também fora dele. Talvez o grande sonho de Muhammad não tenha sido ser tricampeão mundial de boxe, mas sim ser uma figura importante da história, e ele conseguiu isso graças ao boxe.

Dentro do ringue ele mesmo dizia que voava como uma borboleta e picava como uma abelha. Sua velocidade sempre foi seu ponto forte, tanto que em 1960 quando ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Roma, com apenas 18 anos de idade, disseram que Ali era o mais rápido Meio-Pesado que existia, quando se profissionalizou e subiu de categoria para Peso-Pesado a diferença com seus rivais só aumentou.

Ali varreu sua categoria e aos 22 anos ganhou seu primeiro titulo mundial. Depois de não somente perder os cinturões, mas também deixar de competir em sua melhor fase da carreira devido à cassação de sua licença, Ali retorna ao boxe e se torna bicampeão em 1974 diante de George Foreman.

Já mais velho e sem aquela velocidade que lhe era característica, Ali também mostrou que tinha queixo duro e sabia aguentar pancadas. Com essa estratégia consegui o seu tricampeonato em 1978 já com 36 anos de idade.

Em sua ultima luta em 1981, já ficava claro que Ali não era mais o mesmo e possuía algum problema, mesmo assim aguentou 10 rounds e foi derrotado por Berbick, 12 anos mais jovem que ele, apenas nos pontos. Pouco tempo depois Muhammad foi diagnosticado com Parkinson e batalhou com a doença pelos últimos 32 anos.

Fora do ringue Ali também foi excepcional.  Sempre soube usar de sua beleza e jovialidade, bem como de sua habilidade com as palavras e do tom provocativo para sempre estar no centro das atenções, principalmente após a vitória nas Olimpíadas.

Ali, que para muitos foi a personalidade mais conhecida no mundo em todos os tempos, utilizou toda sua fama para combater o preconceito racial, religioso e as desigualdades sociais. Para tanto, desafiou a sociedade conservadora americana convertendo-se ao islamismo e negando-se a lutar com as Forças Armadas no Vietnã.

Suas posições controversas lhe renderam a perda de milhões de dólares, dos cinturões de campeão mundial, além de perseguição, exilo e quase prisões.

Mesmo depois de todas as sanções sofridas, Ali continuou lutando por seu povo e sua religião e por isso é visto como um herói por muitos. Depois de diagnosticado com Parkinson, Muhammad levantou outra bandeira: a do combate, incentivo e arrecadação de dinheiro para pesquisas contra o Parkinson.

Ali definitivamente foi uma das maiores e mais importantes personalidades mundiais por tudo o que fez e por isso me tornei seu fã, mesmo após sua morte.

Sua luta por uma sociedade melhor e mais justa, apesar de ter sido iniciada lá nos anos 60,  ainda é bastante atual e deve continuar a ser lutada por nós.

Se há um ponto positivo na perda de um grande ídolo como Muhammad Ali é a rememoração de tudo aquilo que ele já fez, podendo assim trazer luz a muitos que ainda não conheciam sua história ou que a esqueceram com o tempo.

Ali consegui o que queria, entrou para a história. Mesmo morto, mesmo sem poder utilizar mais seus rápidos pés e poderosos braços e punhos, ou seu rosto jovial e comercial, nem mesmo a sua incrível capacidade de discursar e de convencimento, Muhammad Ali ainda consegue nos inspirar.

Que suas palavras, seus atos, seus ensinamentos nos sirvam de lição e incentivo. Não deixemos isso para trás, não façamos com que Muhammad Ali e outras pessoas que lutam pelo bem de nossa sociedade e por um mundo melhor sejam anônimas ou passem despercebidas por nós, como aconteceu com o próprio Muhammad aqui bem pertinho de nós nos anos 80.

http://www.gazetadopovo.com.br/esportes/lutas/mito-do-boxe-foi-quase-anonimo-em-curitiba-nos-anos-80-el44t0z2ghjccsotei1bpoqxa

Bebamos da fonte ofertada por estes ídolos, utilizemos mais dessa grande ferramenta de transformação chamada Esporte e de suas histórias, sejamos pessoas melhores.

Por Ali e por um mundo melhor.

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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