22/08/2023
Cotidiano Guarapuava

Mulheres, a maioria vitimizada, cuidam do corpo e da mente em tarde especial

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Cristina Esteche

Guarapuava – “Feche os olhos, se concentre na sua respiração, relaxe. Agora imagine um terreno fértil, escolha uma planta, fruta ou flor, semeia e regue. Cuide dela todos os dias até que dê flores ou frutos”. Este foi o início da palestra proferida pelo psicólogo Jeancarlo Faria Goba a um público de mulheres, em sua maioria, vítimas de violência doméstica. Tendo como palco o miniauditório das Clínicas Integradas Guairacá, em Guarapuava, o evento faz parte da semana instituída pelo Tribunal de Justiça do Paraná, Paz em Casa, em 2015, segundo a juíza Carmen Mondin (foto abaixo).

Sentadas, algumas com filhos no colo, outras, com crianças ao lado, as mulheres levaram junto as marcas herdadas desde a infância. “Temos padrões que se repetem na história familiar, a partir de emoções e situações que foram vivenciadas lá atrás e que surgem como carências, sensações de abandono, sentimentos de culpa. Somos amarrados pela nossa própria história”, disse o psicólogo.

Segundo Jeancarlo (foto abaixo), essa crenças limitantes nos impedem de crescer como pessoas, de ter atitudes consigo mesmo. “Sempre queremos mudar o outro, quando a mudança tem que partir de nós mesmos. O algoz só vai existir se houve a vítima”. De acordo com Jeancarlo, é preciso encontrar a criança machucada, sofrida, que vive dentro de cada um e ajudá-la a se curar, para poder crescer com ela. “A planta que falei no começo da nossa conversa é uma representação de vocês. Temos que ter a capacidade de reconhecer o nosso potencial e colocá-lo pra fora. Porque se ficar só escondido, vai ficando preso. Precisamos ter a capacidade de deixarmos de ser violentos conosco mesmo e usar essa força, essa raiva, para destruir as coisas que nos incomodam, que não nos servem mais, sejam comportamentos, pensamentos, culpas, depressão, automutilação. Se não explodirmos, vamos implodir”.

O psicólogo lembra que as pessoas agem dessa forma porque não receberam estruturação para aguentar cargas, e que isso deveria ter sido feito pelos pais. “Hoje somos adultos e só temos a nós mesmos. Não podemos ser vítimas de nós mesmos. Somos um quebra-cabeça que precisa ser reestruturado, recuperado, para sermos inteiros”.

A cada frase de efeito, a cada afirmação feito pelo psicólogo foi possível observar a identificação de mulheres com o problema levantado, independente da faixa etária de cada uma que ali estava presente. “Estou fascinada pelo conhecimento [do palestrante]. As pessoas precisam ter atitudes para poder mudar”, disse Terezinha Maciel, presidente da Associação de Mulheres do Bairro Morro Alto.

Depois de cuidar da mente, o público foi convidado para ter cuidados especiais com a aparência. Cinco acadêmicas do curso de Estética da Faculdade Guairacá estavam lá para a transformação. Escova, tranças, maquiagem, esfoliação, massagens compõem o mix de serviços oferecidos numa tarde especial para as mulheres.

QUARTA

A programação segue nesta quarta (23), às 8h30, no miniauditório da Unicentro, campus Santa Cruz, com o lançamento de materiais audiovisuais 'Numape Florescer' (etapa 1), palestra sobre a importância do trabalho em rede para garantia do combate à violência e da promoção de políticas públicas, com Terezinha Beraldo Pereira (coordenadora estadual de Políticas para Mulheres) e dinâmica motivacional, com o psicólogo Jeancarlo Goba.

Cristina Esteche

Jornalista

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