*Reportagem com vídeo
Maria de 52 anos, sofre com a menstruação excessiva por conta de dois miomas uterinos (tumores benignos no útero). Conforme a mulher, o fluxo ocorre por duas semanas seguidas. Entretanto, por falta de recursos, ela não pode comprar absorventes. Assim, acaba improvisando com retalhos de panos e sacolas plásticas.
“Eu já deixei de sair de casa por não ter absorventes. Tinha medo de passar e os outros dar risada. É a maior tristeza, sabe? Você pedindo pra Deus. Suplicando pra Deus de madrugada por não aguentar mais”.
Entretanto, a angústia vivida por Maria é a realidade de milhares de mulheres. De acordo com a lei municipal apresentada pela vereadora Bruna Spiztner, permite tratar de aspectos que vão além da distribuição dos absorventes.
De acordo com a deputada Cristina Silvestri (CDN), inclusive, universitárias faltam às aulas durante o ciclo por falta de absorventes. Conforme a deputada, o assunto ainda é tabu para muitas pessoas. “Trata-se de um tema cercado de desinformação, falta de acesso a absorventes e outros itens de higiene”.
A parlamentar é autora do projeto de lei estadual junto com os deputados Boca Aberta Junior, Goura, Mabel Canto, Cantora Mara Lima, Luciana Rafagnin. Além de Michele Caputo e Luiz Claudio Romanelli. O projeto prevê a distribuição de absorventes íntimos nas escolas públicas e unidades de básicas de saúde do estado.
SAÚDE PÚBLICA
No entanto, a adesão à lei foi assinada nesta sexta (24) pelo prefeito Celso Góes (CDN). Ele entende que a pobreza menstrual é um caso de saúde pública. “Esse é um dos projetos voltados para a saúde das mulheres. Muitos outros estão em execução ou vão ser implementados nos próximos meses em diversas áreas. Vamos investir cada vez mais na valorização feminina, dando atenção e um tratamento mais digno para aquelas que estão marginalizadas socialmente”..
Pelos dados da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, são mais de 16 mil mulheres que vivem em situação de vulnerabilidade social em Guarapuava. Ou seja, entre extrema pobreza, pobreza, baixa renda e até ½ salário mínimo. Kamilla Fernandes de 14 anos, faz parte desse grupo.
Ela menstruou pela primeira vez aos 11 anos e nem sempre teve acesso a absorventes por conta da situação financeira da família. Assim, deixou de ir para a escola. “Na escola às vezes não tinha absorventes para emprestar. Às vezes eu deixava de ir ou eu emprestava da minha tia”.
OUTRA REALIDADE
Em Guarapuava, com a nova lei, mulheres como Maria e jovens como Kamilla terão acesso a absorventes de graça. Para isso, será feito um cadastro das mulheres via os Centros de Referência em Assistência Social (CRAS). Já os recursos públicos serão destinados pelo Município via Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres.
A pasta compra e distribui os itens de higiene. Entra aí a democratização do acesso à informação e a educação sobre a saúde feminina. Conforme a secretária Priscila Schran, em abril a campanha ‘Dignidade Feminina’, já arrecadou mais de três mil itens. “E, até o momento, distribuiu mais de 800 pacotes de absorventes”. De acordo com a secretária, essa ação surgiu para reduzir a desigualdade entre as mulheres que foram atingidas pela pandemia.
“Além da falta do alimento, também havia a falta de absorventes”. A campanha envolveu a Prefeitura de Guarapuava, os Centros Universitários Guairacá e Campo Real, e a Procuradoria da Mulher da Câmara Municipal. E serviu de inspiração para a criação da Lei Municipal. * Veja no vídeo o depoimento de Maria.
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