A jornada semanal de trabalho, a posse de carteira de trabalho assinada ou de contrato formal e a contribuição para a previdência oficial são tradicionais indicadores de regulação e proteção do trabalho, e historicamente significa uma segurança para a população.
Esse sentimento toma proporções maiores quando se trata do portador de deficiência. São homens e mulheres de várias faixas etárias que, em muitos casos, não têm seus direitos básicos assegurados, de ir e vir, de estudar, de trabalhar, de lazer.
Para reverter essa situação a denominada Lei 8.213/1991, determina que as empresas que possuem a partir de 100 empregados cumpram uma cota, proporcional ao seu tamanho, com cargos para trabalhadores reabilitados ou pessoas com deficiência. Assim, empresas com até 200 empregados deverão reservar 2% de seu quadro para atender à lei. De 201 a 500 trabalhadores, 3%. De 501 a mil funcionários, 4%. De 1.001 em diante, 5%.
Foi essa exigência legal que proporcionou que Valquíria Aparecida Ilnitski, 25 anos, e Silvia Buese, 28 anos, conquistassem espaço no mercado de trabalho e com ele a independência. As duas trabalham na Câmara de Vereadores.
Valquíria teve falta de oxigênio no cérebro quando nasceu e tem seqüelas da paralisia cerebral. Silvia sofreu poliomelite e é cadeirante.
Se para muitos o olhar do preconceito fala mais alto, para elas a força de vencer supera barreiras. As muletas em que Valquíria se apóia para caminhar são deixadas no carro para dirigir. Mas para isso foi preciso vencer a limitação imposta pelo próprio pensamento. Quando minha mãe dizia que eu devia aprender a dirigir, logo pensava: se uma pessoa que tem dois pés e duas mãos tem dificuldades, imagine eu, confessa. Mas foi o incentivo de colegas deficientes a Associação da classe em Guarapuava que se locomoviam por conta própria no trânsito da cidade que motivou Valquíria à superação. Decidi que compraria o meu carro e que iria aprender a dirigir, contou. Começava aí a primeira dificuldade, tirada de letra por Valquíria. As auto-escolas de Guarapuava não têm carros adaptados. Fui a Curitiba, comprei o meu e mandei adaptar e foi nele que aprendi a dirigir, conta com orgulha. Não tenho dificuldades para dirigir e as minhas limitações não me atrapalham, pois tudo é adaptado para utilizar apenas as mãos, relata.
O que ela reclama é da falta de locais públicos com acessibilidade. Nem mesmo a clínica de reabilitação onde fez fisioterapia era projetada para deficientes físicos. Eu tinha que subir três lances de escada para fazer fisioterapia. Isso é o maior absurdo. Não há pizzaria, lanchonete ou clube social, na cidade que tenham acessibilidade, diz.
Mas a expressão de indignação logo deixa o rosto de Valquíria para dar lugar a um largo sorriso quando ela conta a sua mais recente conquista. Ela se casa na sexta-feira, dia 6 de março, com Fabio Chimanski, após três anos de namoro iniciado na Associação dos Deficientes Físicos de Guarapuava. Quando o deficiente aceita a sua condição e não se auto-discrimina, tudo de bom acontece, comemora.
Assim como Valquíria, Silvia também deu seu grito de liberdade quando começou a trabalhar. Hoje, aos 35 anos de idade trabalha num local com acessibilidade e conta com a parceria dos colegas de trabalho no dia-a-dia.
Foto: Valquiria IInitski ( Hemerson Carlos de Souza)