22/08/2023

Mundão sem fronteiras

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De sexta-feira até esta segunda, andei mais de 1.000 quilômetros entre Guarapuava e o interior de Santa Catarina. Parte de ônibus, outra de carro. Em Guarapuava, senti o frescor da Primavera, o tradicional vento do Terceiro Planalto a balouçar viventes e objetos inanimados, a temperatura a despencar de uma tarde encalorada para a chuva fria e torrencial na madrugada.  

Enfrentar uma viagem a Guarapuava de ônibus é uma aventura. Poderia ser mais agradável. Ainda que para muitos o preço se torne proibitivo, não há uma linha executiva saindo de Curitiba. Duas empresas, a Princesa dos Campos e a J. Araújo, monopolizam um mercado que já foi bem melhor atendido, até com “rodomoça”. Não precisa chegar a tanto, mas um carro com conforto, espaço maior para esticar as pernas judiadas de um dia (ou mais) de andança na Capital do Estado, já faria um bem danado. Que dirá eu, e tantos outros guarapuavanos que saíram tentar a sorte em plagas mais distantes.

É perceptível que Guarapuava tem mudado bastante nos últimos anos. A impressão que dá é que a cidade não cabe mais nela. O centro, estruturado pelo Padre Chagas (Francisco das Chagas Lima) no começo do Século XIX, está exaurido. Ouvi de uma amiga que veio recentemente de Portugal, comemorando: é bom estar em Guarapuava, tenho 5 praças para levar meu filho. Circulei pelo Calçadão, bati um dedo de prosa com o Chiquinho no Café XV (falando de política, não dá outra) e parei numa barraquinha da Secretaria Municipal da Saúde, prontamente atendido pelo dr. Stefan Negrão, cardiologista, secretário da Saúde de Guarapuava. Acompanhava em pessoa o trabalho de sua equipe no Dia da Diabetes.

Na Unicentro, iniciei tratativas para um novo trabalho literário que pretendo organizar a partir de agora. E na noite de quinta-feira, véspera de feriadão, buzão para Floripa. A empresa BrasilSul, com atendimento personalizado em comparação ao da Pluma, agora só vai até Balneário Camboriú. O que tem de guarapuavano morando no Vale do Itajaí! Em Balneário, Itajaí, Itapema, Blumenau, Jaraguá do Sul. Na maioria, pedreiros. Os passageiros são familiares que vão visitar o marido, o filho, pessoas que foram para trabalhar por um período e lá ficaram. Vão com a notícia de que Guarapuava tem empregos, mas precisa ter experiência, qualificação, há carência disso na região. Haja assunto na viagem: engarrafamento de 4 horas na descida da Serra, o sol se abrindo no horizonte…

No dia seguinte, seguindo à região de Tubarão e Orleans, no Sul de Santa Catarina, marquei com a família para sair às 5 da matina. Cobertor, travesseiro e lanche para as crianças, tudo pronto para o embarque – e para uma possível nova aventura. Dois pontos da BR-101 naquele trecho, no Morro dos Cavalos e em Laguna, acumulam filas de horas. Em Laguna, está a maior obra do governo Dilma na BR-101, uma ponte estaiada sobre a Cabeçudas (detalhe na foto/animação), com um vão de 400 metros de comprimento. Quando o trânsito não para com as obras, os motoristas reduzem a marcha para apreciar a movimentação das máquinas. Queira ou não, você fica quilômetros e quilômetros falando da Dilma.

Em Guarapuava, procurei tofu. Achei salsicha vegetariana. Que sorte. Em Orleans, na Encosta da Serra Geral de Santa Catarina, minha sogra, 86 anos, me avisou na chegada: vou fazer polenta, e se contente. Do milho plantado e colhido por ela. Da farinha moída na tafona perto da roça. Radiche, repolho, inhâme ou batata cará, molho grosso direto do tomate, sem veneno, amêndoas e nozes que levei de casa.

É um Brasil de muitos brasis.

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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