22/08/2023




Guarapuava

"Murro em Ponta de Faca" mostra a crueldade do exílio num dos melhores textos de Boal

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Da Redação, com assessoria

Guarapuava – Quando esteve exilado, o diretor e daramaturgo Augusto Boal (foto abaixo) escreveu Murro em Ponta de Faca, sobre um grupo de brasileiros que estava na mesma situação que ele, expulso de seu país. Para homenagear o amigo que, obrigado a morar em países vizinhos, mandou o texto por correio, o ator, roteirista e diretor Paulo José, montou a peça em 1978, no Teatro de Arte Israelita Brasileira (TAIB), em São Paulo. Naquele tempo, ela foi encenada pela companhia de Othon Bastos e tinha no elenco nomes como Renato Borghi, Francisco Milani e Marta Overback. Os cenários e figurinos de 78 eram de Gianni Ratto, e Chico Buarque assinava a direção musical.

Três décadas depois, Paulo José (à esquerda, na foto abaixo) resolveu repetir a homenagem ao amigo, morto em 2009, e fez uma nova versão do espetáculo. A montagem, selecionada pelo edital Myriam Muniz, da Funarte, estreou em março de 2011, no Festival de Teatro de Curitiba e desde então realizou temporadas e apresentações no Brasil inteiro. 

Agora, em 2017, através da Lei Estadual/Profice e incentivo da COPEL, o espetáculo vai circular por 11 cidades do Paraná (Ponta Grossa, Pinhais, Araucária, Campo Largo, Umuarama, Arapongas, Maringá, Piraquara, Cascavel e Paranaguá), incluindo Guarapuava. 

Se o texto permanece pertinente e contemporâneo, é porque Paulo José transforma o isolamento de um exilado numa solidão existencial. Durante os ensaios, ele observou que a primeira montagem soava mais fria do que atual. Passadas algumas décadas do fato, em um novo panorama político, os dramas existenciais dos personagens estão ainda mais fortalecidos.

"A condição do exilado é muito cruel. Ele não tem direito algum, ninguém quer saber, ele não tem moeda de troca, é um pedinte, um fedorento", comenta Paulo, sobre a condição existencial dos personagens da peça.

O ESPETÁCULO

Murro em Ponta de Faca conta a trajetória de três casais de brasileiros exilados – burgueses, operários e intelectuais – e obrigados a conviver no mesmo espaço físico. E, a despeito das diferenças, descobrem-se ligados por um sentimento comum: não pertencem a lugar nenhum, vivem em um tempo suspenso. “Boal costumava manter certa distância em relação aos seus personagens, um olhar irônico. Mas, aqui, é como se ele se identificasse, tivesse uma afetividade por eles. É um texto sobre exilados escrito por alguém que também estava no exílio”, comenta Paulo José, sobre o conteúdo e diz que não foi preciso fazer nenhuma alteração no texto original, e afirma, “hoje ainda observamos, mundo afora, muitas pessoas sem Pátria, sem porto, sem identidade, claro que em outro contexto, mas nem por isso menos exiladas”; e conclui que o texto foi escrito como se a história ocorresse nos dias de hoje, em “linguagem coloquial e contemporânea”.

No elenco, Abilio Ramos, Edson Bueno, Patricia Saravy, Nena Inoue, Rafael Camargo, Raquel Rizzo. A iluminação é do premiado Beto Bruel, cenário de Ruy Almeida, direção sonora do londrinense radicado no Rio de Janeiro, Daniel Belquer, e o figurino da mineira Rô Nascimento.

OFICINA E DEBATE

No dia do espetáculo, às 16h, acontece uma Aula Aberta de Iluminação com Beto Bruel. Trazendo um pouco sobre os principais refletores de iluminação, Beto (foto abaixo) fala sobre seu processo criativo e como isso foi aplicado em alguns de seus espetáculos.

Após a apresentação da peça, que tem duração de 1 hora e 40 minutos, haverá ainda o debate 'Exílios e Pertencimentos', onde público e elenco poderão discutir e questionar a abordagem histórica dessa pertinente montagem. 

E assim, como dizia Boal, vamos estendendo esta história a "outros… e outros… e outros mais, para que esta história não mais se repita. Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça".

SERVIÇO

O que: Murro em Ponta de Faca (única apresentação)

Quando: 22 de agosto de 2017, às 19h30

Onde: Auditório da Unicentro, campus Santa Cruz

Entrada gratuita

Indicação: Não recomendado para menores de 14 anos

Pré-evento: Aula Aberta de Iluminação com Beto Bruel, às 16h

Pós-evento: Debate 'Exílios e Pertencimentos', às 21h

 

 

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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