A mentalidade política brazuca é meio doentia mesmo. Pra dizer o mínimo. E se aponto isso não é por maldade não, por favor, não me entendam mal, apesar de estar mais que ciente de que não serão poucos os que irão, propositadamente, seguir por esse viés. Mas, mesmo assim, vejamos alguns fatos que, no mínimo, fazem a gente parar pra matutar um pouco sobre a questão.
Um deles, que agora reavivo em minha memória, é a popularidade do senhor Lula logo no início do seu primeiro mandato. Você se lembra de quanto era? Não? Então rememoremos: algo próximo dos 96%.
Claro que a tigrada vermelha com duas mãos esquerdas irá apontar para isso como prova inconteste de que tais números seriam a prova cabal de que ele era um líder popular, amado pelas massas e blábláblá.
Pode até ser isso em alguma medida, mas, o que me espanta é o seguinte: no Brasil nem mesmo Deus tem essa aprovação. Nem no mundo. Isso mesmo. E pior! Ele, Lula da Silva, pintou e bordou, disse sem o menor pudor toda ordem de absurdos e sandices e, mesmo assim, ainda hoje, é amado por uma montoeira de fiéis dessa capelinha do Butantã onde ele é idolatrado até debaixo d’água.
E não preciso nem dizer, mas digo: isso não é um sinal saudável para uma democracia. De jeito maneira. Termos um demagogo com tamanha aprovação, com tamanha devoção à sua pessoa não é coisa boa não. É muita credibilidade depositada num homem de carne, ossos e sabe lá mais o que. É muita credulidade duma massa ululante que se crê crítica e esclarecida.
E tem outra: nesse fenômeno temos misturado uma boa dose de culto a personalidade dum guia político (que é típica de partidos socialistas e fascistas), com o velho credo sebastianista que nutre a esperança metastática da vinda dum salvador da pátria para nos acudir de nossas pulgas e lombrigas.
Por essas e por outras cositas, não é à toa que no final da campanha que consagrou Lula pela primeira vez nas urnas dizia-se que a esperança havia vencido o medo. Lula simbolizava isso e, vejam só: deu no que deu.
Pois é, e ainda temos outro problema. É uma meleca quando a esperança, em matéria política, vence o medo. Ele, o medo, é um sentimento necessário para mantermos a sanidade duma democracia. Se ele desaparece, perdemos, com o tempo, a capacidade de sermos céticos em relação aos mandões e, sem querer querendo, tornamo-nos crédulos por demais ao ponto de confiarmos mais num homem – como se ele fosse uma entidade divinal acima do bem e do mal – e num partido – como se a ideologia por ele apregoada fosse à última revelação.
Tamanha é a devoção a esse canastrão que, recentemente (dia 11 de agosto), ele proferiu um discurso na UFRJ para acadêmicos de Direito e profissionais dessa seara e, com todas as palavras, disse que o grande erro de seu governo e do de Dilma foi não ter acelerado na direção da criação de mecanismos de controle da mídia e, ao declarar isso, o que aconteceu? O que? Isso mesmo, ele foi ovacionado.
Pois é. E isso, meu caro Watson, definitivamente, não é um bom augúrio para a nossa etílica democracia não. Não mesmo.
Quem viver, verá.