22/08/2023
Brasil

Não há mais bobo no futebol?

Não há mais bobo no futebol. A frase eternizada por Galvão Bueno te sido muito utilizada nos últimos tempos, principalmente para justificar derrotas vergonhosas ou resultados ruins dos clubes e da seleção brasileira. No último meio de semana a frase fez-se ouvir novamente, após os cinco clubes brasileiros da Libertadores terminarem a rodada sem nenhuma vitória conquistada.

– Não existe mais bobo no futebol, o futebol paraguaio vive uma grande fase com uma geração incrível, analisaram torcedores e comentaristas.

– O futebol venezuelano nunca esteve tão bem, diz o outro

– Olha a China evoluindo, comenta preocupadamente o torcedor que está de olho no mercado da bola.

Analisando desta forma realmente parece que um fenômeno sem precedentes está elevando o nível dos países com pouca, ou nenhuma, tradição no futebol tornando-os potências emergentes.  O que faz, por exemplo, com que um confronto com a Venezuela seja hoje motivo de muito mais preocupação do que de alegria para a seleção brasileira.

Mas será que é isso mesmo? Será que esse fenômeno realmente existe e faz com que não haja mais nenhum bobo no futebol?

Há poucos dias ouvi uma discussão interessante, onde o sujeito afirmava que a evolução ocorreu para todos, contudo, nós permanecemos estagnados devido aos problemas internos que há anos enfrentamos como: a má gestão da CBF, corrupção no futebol, falta de visão de dirigentes, etc. Ou seja, segundo tal teoria nós que seríamos os bobos.

O comentário realmente foi extremamente interessante, principalmente por entender que esse não é um processo alienígena, que somente tem a ver com o que acontece lá fora, mas que muito tem a ver com o que fazemos com nosso futebol por aqui. Contudo, não concordo completamente com tal pensamento.

Isso porque acredito que nossa mea culpa tem que ser ainda um pouco maior, a ponto de conseguirmos descer desse degrau que nós mesmos nos colocamos e nos classificarmos como os melhores do mundo. É bem verdade que ainda somos os únicos pentacampeões do mundo, que possuímos 17 títulos da Libertadores, 4 mundiais de clubes da FIFA, 6 mundiais interclubes, entre outros, mas nem sempre fomos ou somos os superiores.

Não é de hoje que os times argentinos, chilenos, colombianos nos dão trabalho, não é de hoje que seleções mais fracas nos surpreendem, não é de hoje que ficamos pelo caminho em competições a quais éramos considerados favoritos.

O que quero dizer com tudo isso é que talvez a nossa falta de percepção desse contexto é que nos torne “bobos”. Afinal não podemos deixar que essa tal superioridade não nos permita, por exemplo, perceber que um time colombiano que já há alguns anos vem fazendo boas exibições é hoje a melhor equipe da Libertadores da América (Atlético Nacional), ou acreditar que um time que sofreu no Brasileirão de 2015 pode ir muito bem na Libertadores sem trazer reforços (São Paulo), ou ainda pensar que somente a chancela de campeão brasileiro pode lhe permitir se desfazer de seus principais jogadores e ainda ter um grande desempenho (Corinthians).

Cristina Esteche

Jornalista

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