22/08/2023


Brasil Geral

"Não queremos vender ilusões à comunidade", diz Aldo Bona

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Da Redação

Guarapuava – Num momento econômico desfavorável, com cortes nas universidades estaduais do Paraná, e dotação orçamentária comprometida, a Câmara de Vereadores de Guarapuava chama uma Audiência Pública para debater a implantação do curso de Medicina na Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro). O debate acontecerá nesta quinta (31), às 18h30, no plenário do Legislativo Municipal.

De acordo com o reitor da Unicentro, professor Aldo Bona, hoje a Instituição não possui orçamento e nem condições de implantar o curso. “Se tivesse, já teríamos implantado, mas dependemos da autorização do Governo do Estado e o momento econômico não é favorável, mas a discussão é válida”.

Segundo Aldo Bona, dentro do projeto estratégico para o desenvolvimento regional, a dependência maior é de vontade política. “Foi assim com todos os cursos implantados, mas não queremos vender ilusões à comunidade, pois dependemos do Governo do Estado”, insiste o reitor.

Aldo Bona lembra que a implantação do curso na Unicentro, cujo projeto já está pronto, integra o plano político do governador Beto Richa. “Como estamos na reta final do mandato deste Governo, não queremos que aconteça como no Governo de Jaime Lerner quando o decreto já tinha sido assinado, entrou outro governador [Roberto Requião] e retirou do Diário Oficial onde estava para publicação”. De acordo com o reitor, há uma manifestação do interesse do governador em viabilizar o curso e, por isso, o momento é de unir as forças regionais antes que o acabe o mandato do atual governador.

A LUTA

A implantação do curso de Medicina na Unicentro é uma bandeira que vem sem defendida por várias lideranças políticas de Guarapuava e da região. Em 2014, o projeto iniciado dois anos antes foi aprovado pelo Conselho Universitário (COU) e a expectativa era de que ofertasse o primeiro vestibular em 2016, o que não aconteceu.

Em 2013, o então secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Alipio Leal, disse à RSN, que o Governo do Paraná estava avaliando com muita cautela a implantação do curso de Medicina na Unicentro. “Existe uma grande demanda pela abertura de novos cursos, principalmente de Medicina, em todo o Estado. Nós estamos tratando com muita responsabilidade, pois não podemos implantar os cursos apenas por implantar. Há toda uma estrutura que deve ser avaliada, para que depois esse novo curso não caia no descrédito”, disse à época. 

Naquele momento, a Seti estava atuando na implantação do curso de Medicina na Unioeste, em Francisco Beltrão, já em funcionamento.

VÁCUO REGIONAL

A necessidade desse curso na Unicentro é indiscutível. Além de ser uma universidade pública, portanto, sem ônus da mensalidade para os acadêmicos, o município é polo de uma região com um universo de mais de 500 mil habitantes.

Para se ter uma ideia, uma pesquisa feita pelo IPEA, em 2016, envolvendo 2.773 frequentadores do Sistema Único de Saúde (SUS), mostrou que 58% dos problemas enfrentados por usuários do sistema público de saúde é a falta de médicos. Num país com cerca de 400 mil médicos formados, no qual pouco mais de 300 mil exercem a profissão, nada menos que 700 municípios – ou 15% do total – não possuem um único profissional de saúde. Em outros 1,9 mil municípios, 3 mil candidatos a pacientes disputam a atenção estatística de menos de um médico por pessoa.

Em 2012, quando a Unicentro fez o projeto para o curso, o Brasil possuía 371.788 médicos em atividades, dos quais 57 mil na Região Sul, segundo os dados do Conselho Federal de Medicina (CFM) de 30 de novembro de 2011. No Paraná, 49% dos médicos (dos cerca de 18 mil profissionais) estavam concentrados em Curitiba, restando os 51% distribuídos nos 398 municípios. Esse índice mostra porque existe a dificuldade para que municípios do interior contratem médicos. 

A importância para a região, o vazio que existe, a necessidade da mão do Estado para minorar as carências no âmbito da saúde que, teoricamente, é um direito constitucional, é mais do que evidente. 

Para suprir a falta de profissionais nas unidades de saúde, o município está cadastrado no programa Mais Médico do Governo Federal.

Entretanto, há previsão de novos profissionais no país. O professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP, e coordenador da pesquisa Demografia Médica no Brasil, Mario Scheffer, número de médicos crescerá em grande velocidade no Brasil, passando dos atuais 430 mil para 600 mil na próxima década,. Segundo o professor, é o resultado da abertura de dezenas de novos cursos de Medicina, sobretudo privados, após a aplicação da Lei Mais Médicos, de 2013. Guarapuava está sendo contemplada com a implantação do curso na Faculdade Campo Real.

Cristina Esteche

Jornalista

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