22/08/2023
Brasil

Nelson Rodrigues, Dunga, Tite, Temer, Del Nero… e o problema continua.

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Para me inspirar a escrever na coluna desta semana, resolvi me debruçar nas histórias de um dos mais conhecidos e importantes cronistas esportistas brasileiros, Nelson Rodrigues. QUE HOMEM.

Nelson era um inventariável e apaixonado apoiador da Seleção Brasileira, ou como ele mesmo dizia, do nosso escrete. Como um bom torcedor, Nelson Rodrigues gostava de se vangloriar com as vitórias, apoiar a Seleção mesmo nos momentos de dificuldade e é claro dar uma ou outra reclamada quando as coisas não iam bem.

Em seus textos, por exemplo, é sempre visível a amargura que ele e todo o povo brasileiro sentiam após o vexame na Copa de 1950, que segundo ele jamais seria esquecido. Mas, e se o jornalista falecido em 1980 ainda estivesse entre nós, o que diria sobre o escrete canarinho pós 7 a 1 e mais recentemente após mais uma tremenda vergonha na Copa América Centenário.

Acredito que nem mesmo o mais apaixonado apoiador da Seleção Brasileira seria capaz de aprovar o que vem acontecendo com nosso futebol. Nem mesmo Nelson Rodrigues, que adorava exortar os cornetas de plantão poderia não criticar Dunga e cia.

Nelson poderia dizer que o que falta a Dunga era gordura, algo que fez de Feola campeão mundial de 58 e que é, a seu ver, um requisito básico para ser um bom técnico. Já eu acredito que falta a Dunga muito mais coisas que alguns simples quilinhos a mais.

Falta a Dunga personalidade, carisma, conhecimento, tática, técnica, até mesmo o estilo em se vestir, que em outra época foi sua grande marca, parece ter ficado um pouco de lado nesta sua nova passagem.

Como atleta, Dunga até foi um jogador interessante, um daqueles volantes fortes e marcadores que davam confiança a zaga, mas que hoje já não tem muito espaço no futebol moderno. Já como técnico, Dunga foi completamente o oposto, desinteressante e tedioso. Até mesmo a garra, que lhe sempre foi característica, não foi vista nesse seu período como treinador da Seleção.

Em tempos conturbados, onde a falta de apoio popular justificou também o afastamento da presidente da república, Dunga poderia ter sido "impetimizado" há um bom tempo, já que não agradou nem a "coxinhas" nem a "petralhas.

Assim como na presidência, quem deve assumir a cadeira de treinador de seleção também é líder de uma dos maiores partidos, digo torcidas, do Brasil, tem a letra T no começo de seu nome e conta com o apoio e conselhos de seu filho na tomada de decisões importantes, mas não estamos falando de Temer.

O multicampeão Tite deve ser convidado em breve e aceitar assumir o lugar de Dunga no comando, contudo, como novamente nos sugere a política brasileira, a troca não representará de imediato a solução de todos os problemas enfrentados pelo futebol brasileiro.

Merecidamente apontado como o melhor técnico brasileiro no momento, a verdade é que Tite é gabaritado e se sente preparado para fazer um bom papel na seleção, porém, as dificuldades que encontra no Corinthians são mínimas perto do que terá a frente da Seleção. E olha que o ambiente no Parque São Jorge nunca foi um mar de rosas.

Desde que chegou ao Timão, Tite teve que enfrentar cronologicamente a eliminação traumática na Libertadores para o Tolima, problemas com a torcida organizada no CT, saída de ídolos (Ronaldo, Roberto Carlos), polêmicas de arbitragem, novo problema com a torcida (Kevin Espada), nova invasão de CT (Caso Pato), mais saídas de peças importantes ( Guerrero, Sheik,Petros e Fábio Santos), novas eliminações traumáticas (Palmeiras, Guarany e Santos), mais um desmanche ( Negócios da China), outras eliminações em casa (Audax e Nacional) e é claro mais um problema com torcida no CT.

Mais recentemente ainda, Tite teve de enfrentar novos problemas de bastidores como escândalos na base corintiana e até mesmo o descontentamento de alguns atletas como Cássio e Romero. Mesmo assim Tite conquistou um Mundial, uma Libertadores, uma Recopa Sulamericana, dois Brasileiros e um Campeonato Paulista com o Corinthians.

Aí você me pergunta: Como a situação da CBF pode ser pior que esse cenário?

E lhe respondo:

Ao menos o presidente e dirigentes corintianos ainda podem ir tranquilamente ao estádio acompanhar o clube, sem o risco de serem presos. Algo que não pode-se dizer do presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Marco Polo Del Nero.

O fato de ser ameaçado de prisão pelo FBI, ser acusado de corrupção, desvio de dinheiro e outras falcatruagens, ser pressionado pela imprensa parece não impedir Del Nero de continuar na presidência da CBF, o que pode indicar que o buraco é muito mais embaixo.

Por que Marco Polo ainda guarda caixão na presidência da CBF?

Será que ainda existem esquema bastante rentáveis para ele e seus apoiadores (mesmo com a debandada de patrocinadores da Seleção) que expliquem as suas continuidades no poder? Será que Del Nero lá permanece em sua pose figurativa tentando somente esconder a sujeira jogada embaixo do tapete por anos e anos por seus antecessores João Havelange, Ricardo Teixeira e José Maria Marin? Ou será que lá ele permanece por ter um grande projeto de ressurgimento do futebol brasileiro?

A última opção, convenhamos, parece ser a menos provável.

A verdade é que o problema da Seleção Brasileira passa longe de ser apenas técnico. Fora das quatro linhas também há muita coisa errada e que ajudam a explicar o 7 a 1. Ele não foi por acaso.

Por mais que Tite seja um excelente técnico, nem ele, nem Dunga, tampouco Nelson Rodrigues ou Temer conseguirão dar jeito em nossa equipe dentro das quatro linhas se não houver alterações também no âmbito político-administrativo do futebol.

Caso isso não ocorra, é bem possível Tite não tenha bons resultados e se arrependa de um dia ter deixado para trás a "calmaria" do Pq. São Jorge; que o incompetente Dunga volte até mesmo a ser cogitado novamente ao cargo, haja vista o insucesso de outros treinadores; que Nelson Rodrigues, seja lá onde estiver, esqueça do Maracanazzo diante de tantos outros vexames; que Temer e outros políticos utilizem a CBF como exemplo na tentativa de esconder as falcatruas de outros colegas e antecessores, opa! pera?!?!

Cristina Esteche

Jornalista

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