22/08/2023
Cotidiano

NHT cancela vôos em Guarapuava

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Guarapuava – A cidade está de novo sem linha aérea. Por falta de passageiros e “interesse das autoridades”, segundo a Associação Comercial de Guarapuava (ACIG). A empresa NHT cancelou no último dia 11 os vôos comerciais até Curitiba que vinham sendo operados desde março de 2009.

De acordo com uma funcionária do Aeroporto Tancredo Tomaz de Faria, tinha dias em que a aeronave que vinha de Chapecó com destino a Curitiba decolava de Guarapuava sem levar um só passageiro.

Esta foi a terceira tentativa encabeçada pela Associação Comercial. “Não entendo isso como uma derrota, pois acredito no potencial de Guarapuava e da região. Não vamos deixar os empresários sem linha aérea enquanto tivermos força para lutar”, afirma o presidente da entidade, Valdir Grígolo, indignado com o fato de Guarapuava, “uma cidade com quase 200 anos”, não ter linha aérea”.

Grígolo aponta a falta de apoio de políticos e dos próprios empresários como uma das causas. “Apenas duas grandes empresas compraram ´pacotes´ de passagens”, reclama ele, lembrando que houve um extenso trabalho da Associação para conseguir a compra antecipada de bilhetes, para assegurar a viabilidade da linha.

“Posso dizer com segurança que não há interesse, que há pessoas que não desejam a implantação de uma linha aérea em Guarapuava, mas não assumem isso. Posso até chamar audiência pública para debater esse tema, mas não vai comparecer ninguém para discutir”, afirma.

A empresa HNT foi procurada pela TRIBUNA para comentar o fechamento dos vôos, mas não retornou as ligações. A proximidade entre Guarapuava e Curitiba, o alto custo das passagens e o horário inadequado também contribuíram para o fracasso da iniciativa. A passagem começou custando R$ 206 e chegou a custar R$ 250. O vôo saía de Guarapuava às 13h29min com aterrissagem em Curitiba às 14h23min e retorno a Guarapuava às 12h15min do dia seguinte.

“Tinha dias que a aeronave chegava em Guarapuava com os 19 lugares já ocupados por passageiros de Chapecó e quem estava esperando no aeroporto não podia embarcar. Em outros dias não havia passageiros em Guarapuava”, observa. “Havia uma média de seis passageiros por semana”, enumera Grígolo.

Empresário: sociedade precisa criar alternativas à falta de planejamento

O empresário Celso Góes, presidente do Instituto Cidade Aberta, uma ONG criada para discutir Guarapuava, identifica uma “crise de credibilidade” na cidade. “Se lideranças políticas não passam confiança, como é possível cobrar alguma coisa dos empresários, que já têm dificuldades de toda ordem?”, observa Góes.

Para o empresário, os recentes escândalos envolvendo o nome de Guarapuava apenas reproduzem um sentimento que vem aumentando a cada dia, de que o Município está abandonado à própria sorte, sem cuidados essenciais, como na escola onde as crianças caíram numa fossa, e também sem um plano de metas de médio e longo prazo. “Esses escândalos só pioraram a situação. É visível que o guarapuavano está depressivo com essas denúncias”, acrescenta Celso Goes, defendendo a necessidade de a própria comunidade criar alternativas paralelas à ineficiência da Prefeitura Municipal.

“A nossa população não tem poder aquisitivo e falta planejamento estrutural para que ocorra um desenvolvimento sustentável no Município. Guarapuava virou exemplo até internacional de tudo o que é ruim e isso faz com que o povo perca o estímulo”, diz. “Está na hora de a sociedade, através da ACIG, do Instituto Cidade Aberta e outras entidades assumirem a linha de frente. Não podemos esperar, nem concordar, por ações políticas em época eleitoral. A sociedade precisa fazer alguma coisa”, conclama Celso Goes.

Acig vai atrás de nova linha
Uma prova de que a sugestão do empresário Celso Góes é possível foi dada por Valdir Grígolo. No dia seguinte ao cancelamento dos vôos da NHT, o presidente da ACIG foi a Cascavel para conversar com diretores da Sol Linhas Aéreas. “Houve interesse e se houver demanda a empresa coloca até duas linhas”, anunciou. Ele acredita que nos próximos 60 dias os vôos para Curitiba serão retomados e no horário considerado ideal. “O vôo sairia de Guarapuava pela manhã e retornaria à noite”, afirmou.

Mas a empresa já avisou: “Se num prazo de 90 dias após a implantação os vôos não forem viabilizados, mais uma vez a linha será cancelada”, afirma Grígolo.

Foto: arquivo/Rede Sul

Cristina Esteche

Jornalista

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