22/08/2023

Nosso futuro depende dos desobedientes

Lula está sendo alvejado. Este é o fato.  A pergunta que não quer calar é: por si mesmo, ou seja, por erros próprios ou motivações políticas maiores de quem teme uma guinada ao social?  Seria uma morte natural (próprio de todo político convencional), seria suicídio, assassinato ou ressurreição ? Não está fácil decifrar este enigma, sobretudo quando os ruídos da paixão  e da posição que cada um ocupa, quase sempre falam mais alto.

Constata-se que o Lula de 2015 esperneia, movimenta-se e parece não querer morrer. Quer um novo ambiente.  Seu discurso, gestos e movimentos dão conta de que escolheu para os próximos dias a presença dos movimentos sociais e de militantes genuínos de uma ideologia em crise como parceiros para uma nova caminhada. Este projeto foi batizado com o singelo nome de “Grupo Brasil”. 

Lula parece ter compreendido melhor as ruas que sua sucessora.  Não dá para afirmar ser esta prática um mero oportunismo ou uma recuperação de rota. Ainda é cedo.  Compreendeu, ao menos politicamente, o que os brasileiros haviam indicado democraticamente no segundo turno da última eleição presidencial, conferindo uma vitória mais à esquerda para Dilma.

De caso pensado quer voltar ao ambiente  que o consagrou em 1989 quando quase venceu Fernando Collor e por isso tem gasto energia em uma reaproximação com um discurso mais popular.

Quer ir contra a maré de Dilma e de seu ajuste neoliberal, mas não quer ser rotulado de radical como alguns integrantes raivosos. Foi o Jornalista Alberto Dinnes quem disparou a melhor pergunta: “quer salvar a própria pele ou criar um novo projeto?”

Diante deste quadro nebuloso e cheio de armadilhas, os cidadãos e cidadãs brasileiras precisam urgentemente de mais formação, mais reflexão, mais criação, mais crítica e até uma desobediência rebelde de cidadania ativa.

O cientista político Adriano Pilatti reclama por uma insurreição cívica. Afirma que “as grandes e mais positivas mudanças são feitas por quem ousa desobedecer. Nosso futuro depende dos desobedientes”.

Não se pode desconsiderar Lula que vê pela frente possíveis concorrentes robustos como Marina Silva que também busca consolidar-se. Sabe-se que a ex-senadora foi  destruída no pleito de 2014  pelo pecado de ter antecipado que  faria o ajuste conservador que Dilma fez depois de prometer que não o faria.

O fato é que nem a Presidente e  nem os tucanos conseguem preencher o vazio do Lulismo de 12 anos e suas conquistas. Não reconhecer isto é sandice. Apesar disto, o  desencanto de muitos com o direcionamento do Governo,  a experiência da crise no dia-dia e a desconfiança diante de discursos vazios  tem sido o combustível para um comportamento resistente e sem rumo.  Caminha-se para um agir diferente onde um número maior de pessoas decidiu não se ajoelhar, não se conformar, não se calar.   Será que estamos em condições de desobedecer de verdade e a resistir às formas de governo ilegítimas ou indesejadas?

De qualquer forma, ao que tudo indica os cidadãos mais ativos não emprestarão cumplicidade ao atual PT em frangalhos, ao atual PMDB suspeito e nem ao atual PSDB sem identidade. Talvez por isso, o ex-presidente esteja flertando com forças ativas que pedem um porta-voz.

O que não se quer é que o Estado seja ( como está ) garantidor mais de interesses privados que do bem-estar social. Será desta forma que podemos recuperar o axioma do bem público que não é nem patrimônio do Estado, nem escravo da iniciativa privada. Só não sei se isto se fará com Lula ou com Marina Silva.

Cristina Esteche

Jornalista

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