22/08/2023
Blog da Cris Guarapuava

O abismo da saúde mental em Guarapuava

O psiquiatra Cléber Ferreira, vice-presidente da Sociedade Paranaense de Psiquiatria, enfatiza a importância crucial de capacitar a rede primária de saúde

Depressão (Imagem: reprodução/ Pixabay)

Guarapuava, coração do Paraná e epicentro para mais de 500 mil pessoas, enfrenta um paradoxo cruel. Isso porque a cidade, polo regional de desenvolvimento e serviços, carece de uma estrutura básica e vital para a saúde dos cidadãos. A ausência de leitos psiquiátricos em hospitais é mais do que uma falha; é uma ferida aberta na rede de atendimento público, que expõe a vida de milhares de pessoas ao risco diário.

A depressão, um mal silencioso e avassalador, não é “frescura” ou falta de força de vontade, conforme diz o psiquiatra Cleber Ferreira. É uma doença grave, que nos estágios mais críticos exige cuidados intensivos e imediatos. Quando a crise bate à porta e a vida do paciente corre perigo, a resposta da rede pública deveria ser pronta e acolhedora. No entanto, em Guarapuava, essa resposta não existe. A única solução é o encaminhamento para outras cidades, um processo que não apenas atrasa o tratamento, mas sobrecarrega famílias, prolonga o sofrimento e, em muitos casos, se torna inviável.

Essa negligência com a saúde mental da população é um reflexo de uma política pública que precisa de um “choque de realidade”. A ausência de leitos é apenas a ponta do iceberg. A rede de apoio é frágil, o acesso a profissionais como psicólogos e psiquiatras é limitado. E o estigma em torno da depressão ainda impera, dificultando que as pessoas busquem ajuda. O resultado é um ciclo vicioso de dor, incapacidade e, em muitos casos, tragédia.

COMEÇA NA BASE

A solução para a crise da saúde mental vai além da criação de leitos. Ela precisa começar na base. Cléber Ferreira, vice-presidente da Sociedade Paranaense de Psiquiatria, há muito tempo defende a capacitação da rede primária de saúde. Profissionais dos “postinhos”, médicos de família, enfermeiros e agentes comunitários, conforme o médico, precisam ser treinados para identificar precocemente pacientes com depressão e outros transtornos mentais.

Essa abordagem preventiva, conforme o psiquiatra, é crucial. Ao capacitar a linha de frente, é possível dar o primeiro passo no caminho do tratamento, evitando que o quadro se agrave a ponto de exigir uma internação. A saúde mental é a base para uma sociedade produtiva e feliz. Ignorar essa realidade é negligenciar o bem-estar de uma população inteira. É hora de reconhecer a urgência do problema e exigir das autoridades uma mudança de postura. Investir em leitos psiquiátricos, como há muito tempo também vem sendo prometido, é o mínimo. Mas é um passo fundamental para começar a construir uma rede de cuidado que seja digna e eficaz. Guarapuava, como polo regional, tem a responsabilidade de liderar essa transformação, garantindo que o direito à saúde mental seja uma realidade, e não apenas uma promessa vazia.

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Cristina Esteche

Jornalista

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