22/08/2023

O AC/DC e a Igreja do Rock & Roll – parte 1: o Clark Kent do Rock

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Da redação – Esta é a adaptação de um extenso artigo assinado pelo jornalista David Fricke e publicado na edição de novembro de 2008 da revista americana Rolling Stone, traduzido pela primeira vez para o português por Cleyton Lutz*. A matéria conta os bastidores dos ensaios do AC/DC para a turnê do álbum “Black Ice” ao mesmo em que traz detalhes da história da banda, uma das mais influêntes da história do Hard Rock/Heavy Metal e que esteve em São Paulo em Novembro do ano passado realizando um show espetacular. A matéria completa está dividida em seis partes e será publicada sempre aos sábados e domingos durante os três próximos finais de semana.
O vocalista do AC/DC, Brian Johnson, está sentado em um sofá-cama, num quarto de hotel em Nova York com um olhar vazio no rosto, resmungando para si mesmo, cabeça e ombros caídos, exausto. Não há nada de errado com ele. Johnson – um homem robusto, que se parece com um urso e fala rosnando – está fazendo sua imitação do guitarrista do AC/DC, Angus Young, no backstage da turnê, um pouco antes de um show.
“É incrível, vê-lo no camarim” diz Johnson com uma gargalhada rouca e o sotaque carregado do Norte inglês. “Ele pode estar totalmente exausto, no meio de uma longa turnê, sentado ali com um cigarro e uma xícara de chá. Então, é ‘vinte minutos, rapazes’. Ele se levanta, desaparece e volta com a roupa tradicional. Está vestido como um aluno, possui um olhar vivaz na cara e está com a guitarra na mão.
“Ele é como um Clark Kent!” exclama Johnson. “Entra em uma cabine telefônica e sai como um garoto endiabrado de 14 anos, pronto para agitar!”
É uma das transformações mais surpreendente do Rock & Roll, o hilariante oposto do clássico “Guitar Hero”. Como nos últimos 35 anos, Angus sai do vestiário com o uniforme estudantil – camisa branca, gravata, paletó combinando, boné e shorts – baseado na roupa que usava nos tempos de menino, em Sydney, Austrália. Então, com o baterista Phil Rudd, o baixista Cliff Williams e o guitarrista Malcolm Young, seu irmão mais velho, Angus tem um acesso de fúria, dispara riffs e solos incessantemente, sacode a cabeça como uma galinha e gira de costas, chacoalha as pernas no ar. A pausa só vem durante a música “Bad Boy Boogie”, do álbum Let There Be Rock (1977) – quando Angus deixa cair o shorts [basta lembrar a cena da execução de “Boogie Man” do DVD “No Bull” quando Angus realiza um verdadeiro strip tease e ao abaixar o shorts exibe uma cueca com a bandeira da Espanha] levando a platéia ao delírio.
Com esse tipo de música – riffs de guitarra que obedecem a boa gramática do blues e vocal rosnado em mais de uma dúzia de álbuns de estúdio – o AC/DC se tornou uma das maiores bandas do mundo. O álbum “Back in Black” (1980) vendeu 22 milhões de cópias apenas nos Estados Unidos. Nos últimos dois anos, o AC/DC perde apenas para os BEATLES em vendas nos Estados Unidos – o AC/DC vendeu um total de 23 milhões de álbuns e DVDs em todo o mundo desde 2003, quando a banda trocou sua gravadora de longa data, a Atlantic, pela Sony Music. E o novo álbum do AC/DC, “Black Ice”, seu primeiro trabalho de estúdio em oito anos, está prestes a ser o álbum de rock mais vendido de 2008.
Mas há outro Angus além do fenômeno – um apaixonado, teimoso discreto, artesão que busca infinitas possibilidades nos blues dos anos 1950 e 1960, no rock britânico, em artista fundamentais como Chuck Berry, John Lee Hooker, no início dos ROLLING STONES e dos YARDBIRDS. Fora do palco, sem o terno, ensaiando e nas sessões de gravação do AC/DC, Angus está “morto ainda”. Johnson diz com admiração silenciosa: “Ele sorri, fuma e se concentra”.
E Angus toca guitarra sentado.
* Cleyton Lutz é jornalista, fã do AC/DC e esteve no Morumbi dia 27 de novembro de 2009, acompanhando o "maior espetáculo da terra"
Foto: divulgação

Cristina Esteche

Jornalista

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