22/08/2023

O AC/DC e a Igreja do Rock & Roll – parte 4: a infância pobre em Sydney

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Da redação – Esta é a adaptação de um extenso artigo assinado pelo jornalista David Fricke e publicado na edição de novembro de 2008 da revista americana Rolling Stone, traduzido pela primeira vez para o português por Cleyton Lutz*. A matéria conta os bastidores dos ensaios do AC/DC para a turnê do álbum “Black Ice” ao mesmo em que traz detalhes da história da banda, uma das mais influêntes da história do Hard Rock/Heavy Metal e que esteve em São Paulo em Novembro do ano passado realizando um show espetacular. A matéria completa está dividida em seis partes e será publicada sempre aos sábados e domingos durante os três próximos finais de semana.
Malcolm, nascido em 6 de janeiro de 1953, e Angus, nascido em 31 de março de 1955, são os filhos mais novos do casal William e Margaret Young – são oito filhos no total, sete homens e uma mulher, que também se chamada Margaret. George é seis anos mais velho do que Malcolm. Já o irmão mais velho da família, Steven, tinha 22 anos quando Angus nasceu. Outro irmão, Alexander, foi o primeiro roqueiro família. Ele cruzou com os BEATLES enquanto os ingleses estiveram tocando em clubes na Alemanha e, mais tarde, foi um dos compositores da gravadora Apple, a primeira a assinar com os BEATLES.
Após a II Guerra Mundial, o governo australiano instituiu um programa de incentivo a imigração para preencher postos de trabalho e povoar o país. Frustrados pela vida que levavam em Glasgow, os Youngs decidiram ir. Eles chegaram a Sydney em 1963 e no início sofreram com a pobreza. “Morávamos em cabanas”, lembra Malcolm. “Quando me levantava pela manhã, a cabana estava toda molhada e cheia de minhocas”. Eles ficaram “presos” lá por seis semanas. Dois anos depois, George estava fazendo sucesso com o Easybeats e o lar do Youngs no subúrbio de Sydney era um atrativo para adolescentes embriagados. Uma vez Angus chegou a casa e a encontrou sob o cerco. A porta estava bloqueada. Ele teve que ir a esquina e só conseguiu entrar através de uma passagem pelo quintal de um vizinho.
“Mas na nossa família não havia nada disso”, diz Malcolm. Seu pai, um instalador de gás, insistiu em levar os filhos para trabalharem desde cedo. Quando Malcolm deixou a escola, aos 15 anos, conseguiu um emprego como mecânico em uma fábrica de sutiãs. Angus, também aos 15 anos, trabalhou como aprendiz em uma loja de impressão. “Eu nunca me senti como uma estrela pop”, afirma Malcolm. “Viemos de baixo, demos duro, trabalhamos bastante. Isso você não pode esquecer”.
“Eu via que aquele era caminho, precisava me esforçar”, analisa Angus, sem rodeios. “Eu não tinha grandes perspectivas de uma carreira com a educação que eu tive. Quando comecei a tocar guitarra, pensei: ‘tem que dar 200% certo’. Era a minha sobrevivência. Era o meu trabalho, aquilo colocaria comida na minha mesa”.
Antes de iniciar o AC/DC, Angus e Malcolm tocaram em bandas diferentes por um bom tempo. Malcolm tocou com um grupo de pop-psicodélico, coincidentemente chamado de Velvet Underground. Mas eles não tinham nenhuma conexão com a banda americana VELVET UNDERGROUND. “Usurpadores”, diz Malcolm com um grunhido, sobre a banda de Lou Red. Os irmãos também participaram de algumas gravações com George. Mas, desde então, os Youngs raramente têm tocado com outros guitarristas em público – eles também nunca convidaram outras músicos para gravar com o AC/DC.
Quando questionados, eles se recordam de uma única vez em que trocaram agressões: foi em um estacionamento, no lado de fora de uma estação de rádio australiana. Angus se recusou a vestir o uniforme escolar para impressionar o diretor do programa. Ele começou a usar a roupa no palco, na primavera de 1974 [no hemisfério norte], quando a banda decidiu experimentar algumas fantasias para chamar a atenção. Sua irmã Margaret fez o primeiro terno, usando um dos blazers originais que Angus usava na escola. Ela também teria sugerido que Angus desse a impressão de que havia saído direto da escola para o show, sem ao menos passar em casa para trocar de roupa e afins – basta lembrar daqueles vídeos do AC/DC no começo da carreira em que Angus aparece, inclusive, com uma bolsa do colégio. Ele também chegou a usar fantasias de gorila e Superman. Porém foi o uniforme escolar que pegou. E rapidamente.
Mas na rádio… Angus diz. “Eu vi todas aquelas pessoas sérias lá dentro, e pensei: ‘eles não vão gostar disso’. Então disse, ‘não vou colocar a merda do uniforme’. Malcolm retrucou. ‘Você prometeu que faria’. Daí brigamos”. Angus conta o resto da história. “No final, foi isso que aconteceu”, afirma. “Nós fomos para lá e o caras dissera ‘bem, sua gravação ficou uma merda’”.
“Tivemos alguns atritos, talvez dois ou três durante toda a nossa carreira”, diz Malcolm, sorrindo para seu irmão. “Mas tudo já passou e isso não se arrastou, porque não vale a pena. Temos que ficar juntos. E nós sabemos disso”.
* Cleyton Lutz é jornalista, fã do AC/DC e esteve no Morumbi dia 27 de novembro de 2009, acompanhando o "maior espetáculo da terra"
Foto: o AC/DC em registro recente (divulgação)

Cristina Esteche

Jornalista

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