22/08/2023

O Brasil é o Egito. Qualquer semelhança é mera coincidência?

O ano novo começou com pouco entusiasmo naquilo que chamamos de Gestão Pública e expectativas para o ano que se inicia e o que recomendo é que neste novo ano nos conformemos menos e que, diariamente, possamos renovar nosso pensamento para ler nas entrelinhas o que está acontecendo em suas nervuras.

Como já sabemos, não existe mais política, mas sim, mais economia.  De todos os 39 Ministros da Presidente Dilma, os mais badalados e considerados vitais foram os da Fazenda – Joaquim Levy;  do Banco Central – Alexandre Tombini.  Por que será ?    Na mesma proporção e com o mesmo furor, Beto Richa, antes de todos, nomeou Mauro Ricardo Costa para a Secretaria Estadual da Fazenda com o firme propósito de  amargar o café dos conterrâneos  e tirar o sal do tempero de milhões de Paranaenses com uma política de contenção de tudo. Não há dúvida que, ao menos em 2015, quem governará o Brasil será Levy e quem governará o Paraná será o intocável Mauro Ricardo Costa. Ao reconhecer que teremos um ano de vacas magras é impossível não lembrar do Egito antigo. Lá como aqui se gastou muito com nada e depois todos sabemos o que aconteceu:  a socialização da conta.

O jornalista Leão Cerva foi cirúrgico em suas linhas ao comparar o Brasil com o  Egito e que a saída não é outra senão sacrificar a servidão.  Era próprio dos faraós decretarem: "Vamos aumentar impostos. No primeiro momento, os ricos do reino vão ser pegos de surpresa e o tesouro ficará cheio. No segundo momento, eles atravessarão o deserto e levarão seu dinheiro para outros reinos. Mas a essa altura, restarão os pobres e deles tiraremos o sangue e o couro. Cada vez que um trabalhador for para sua casa sua vida, no fim do mundo, uma passagem na biga lotada custará como três bigas e meia. Vamos aumentar também o preço das velas: à noite, ao acender o fogo, se lembrarão de nós". Deduzo que para o bom entendedor ‘meia palavra basta’ e não é o caso de apelidar Dilma e Richa de fortalezas do Egito Antigo.

Corroborando com este mesmo raciocínio compartilho aqui o que li outro dia e que me deixou pasmo. O veredicto afirmava que o capital de oitenta e cinco pessoas mais ricas do mundo equivale ao de três bilhões e meio de pobres ou remediados.  Triste verdade.  Reconhecer isto é o mesmo que dizer que uma pessoa na Espanha pudesse ser essencialmente próspera e todo o restante da população,  radicalmente pobres.

A sobreposição da economia sobre a política é dantesca e o econômico continua mais forte que nunca.  Não reconhecer isto é dar um tiro no próprio pé.  Talvez por esta razão austeridade’ foi a palavra mais proferida nos discursos de posse neste 01 de janeiro.  Os verbos controlar, conter, diminuir, enxugar, cortar, suspender, rever contratos licitatórios e impedir contratações de servidores viraram a trilha sonora mais popular  e a coisa, não tenho dúvida, tem chances de  piorar.

Hoje, como nunca antes neste país, fala-se muito em lógica capitalista  e sistema financeiro. Nós, mortais, temos dificuldades em furar a imunidade desta lógica e deste sistema que opera a maquinaria com eficiência. Mesmo quando falamos mal do capitalismo, celebramos o capitalismo. No momento em que escrevo ‘crise’ virou natural, significando hoje simplesmente “você deve obedecer e aceitar!”.

De Dilma a Beto Richa, ouve-se a máxima ‘precisamos salvar o Estado a qualquer preço’.   Os mais astutos lembrarão que  ‘salvar’ continua sendo um termo religioso e a expressão  ‘a qualquer preço’ uma verdadeira apelação. Exige-se um sacrifício grande demais de inocentes.  Talvez por esta razão Walter Benjamin tenha dito que o capitalismo é uma religião, ‘a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não conhece nem redenção nem trégua’.

O social e o cuidado com os  mais pobres, estrelas de qualquer eleição no Brasil, passaram a ser discurso e só discurso. Ouvi os pronunciamentos da Presidente Dilma e do Governador Beto Richa no primeiro dia do ano, embora esperançosos, eram altamente retóricos. Mesmo assim gostei quando Dilma falou ‘nenhum direito a menos, nenhum passo atrás’. Da mesma forma, foi empolgante ouvir: ‘o meu governo não exclui os pobres, não esquece os jovens, não discrimina os negros, não abandona as mulheres’.  Será ?   Fez-se algo, mas há ainda muito por fazer. Combater a pobreza e permitir ascensão aos marginalizados passou a ser o grande discurso do Brasil, mas a grande prática continua sendo o econômico. Em matéria de cidade, da gestão de nossa cidade, ou todos ganhamos ou todos perdemos. Não há segunda, terceira, nem quarta opção. Assim, torço para que as coisas se ajustem o mais rápido possível e que o desabafo do Prefeito de que 2015 será o ano para comprovar a Guarapuava e região que o trabalho valeu a pena possa ser mais real que nunca.

Por fim, acrescento, não são as pessoas que estão com medo dos governos. É o oposto. Agora, o governo e suas forças estão com medo do povo, apesar da supremacia do econômico. Esta nova geração está muito mais destemida que aquela dos anos 60 e Bertold Brecht está mais atual que nunca ao compreender o sentido do econômico sobre todas outras coisas. Impossível não lembrar de seu axioma emblemático: o que significa roubar um banco comparado a fundar um? 

Cristina Esteche

Jornalista

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