22/08/2023

O Brasil não vai sumir

Tudo vai depender do grau de imunidade da candidata Marina Silva e seu processo de resistência  e a eficiência do veneno (para alguns) ou remédio (para outros) daqueles que tentam bloquear/desconstruir ou esclarecer o que parece ser “o espírito do tempo” ou “o sentimento dominante” no tempo presente quando o assunto é 'eleições presidenciais'.

Em vários de meus ensaios, já me fiz esta pergunta: quantas vezes acertei e quantas vezes errei nas previsões que fiz? E ainda, sempre me pergunto se minhas opiniões foram úteis a mais alguém que a mim próprio? Confesso que as respostas que posso obter não são claras, pois tudo está em movimento.

Convivo com muitas pessoas de opiniões muito distintas. Alguns francos, outros mascarados. Alguns bem informados e outros em uma alienação demente. Alguns estudiosos do assunto, outros dotados de uma vulnerabilidade dantesca. Nem todos conseguem separar ‘o que pensam’ da constatação do que a maioria está pensando. Uma coisa é o juízo individual de cada um, sua percepção e sua inclinação. Outro juízo bem diferente é o exercício de compreender ou de constatar o macro, a complexidade de ideias que prevalecem na cabeça de milhões de brasileiros, sejam eles ordinários ou extraordinários, mesmo que isto se volte contra nossas convicções.  Um mosaico de opiniões que estão mais próximos de “sentenças” e “pregações” que propriamente “diálogos” e “argumentações saudáveis”.

Na última semana tivemos de tudo em matéria de pancadaria eleitoral e nesta semana que se inicia, certamente, decisiva, teremos ainda mais. O alvo-Marina foi a cachaça dos marketeiros de Dilma e Aécio e de seus milhões de simpatizantes. Acusada de plágio em seu plano de governo; acusada de Princesa Isabel no caso da política de gênero e seus direitos civis, anunciada nos últimos dias (uma ironia inteligente que sugeriu ter numa noite libertado os escravos e, na manhã seguinte, ter mantido o castigo);  acusada de ser um misto de Jânio e Collor pela categoria da aventura; acusada de ter faturado R$ 1,6 milhão com palestras em três anos sem citar os pagadores; acusada de fundamentalista e de metamorfose ambulante;  acusada de cumplicidade na irregularidade do avião que matou Eduardo Campos e, finalmente, do grande perigo para o Brasil que deu certo. Tudo isto sendo dito e mostrado em padrão FIFA e em rede nacional de televisão e rádio. A pergunta é: pode-se contê-la com tudo isto ou precisa mais? Seria apenas efeito da comoção ou há algo a mais? O que vai acontecer amanhã?

Eleitores comuns  aguardam um segundo turno, uma prorrogação e querem ter claro se Marina vai proteger seus salários e seus empregos, se vai manter  igual ou melhores serviços públicos, portanto algo fundamental para suas vidas. Já eleitores não-comuns, dotados de alguns atributos especiais, também aguardam o desfecho e querem ter claro o encaminhamento da economia nacional, atitudes concretas para estancar a corrupção e uma reforma política que considere o clamor das ruas. Não há dúvida que o discurso do medo atinge muitos, sobretudo os mortais, os comuns. O “osso” ou o “poder da máquina” se for entregue, não será entregue com facilidade e como lembrou um dia Millôr Fernandes em uma de suas piadas: “um homem, mesmo caindo do vigésimo andar, quando está passando pelo décimo andar, costuma diz: até aqui, tudo bem”.

O que posso dizer sem ressalvas é que, na atual circunstância, se Dilma vir a reeleger-se, o Brasil continua; caso Marina sobreviva e venha a vencer, o Brasil tem condições de continuar, podendo até melhorar e, caso ocorra o surreal de uma possível vitória de Aécio Neves, o Brasil continua também, diferente.

A verdade é que está todo mundo com medo de falar em austeridade, em arrocho, em apertar os cintos, em crise ingovernável. A verdade é que não precisávamos passar por isto se tivéssemos aprendido a lição de outros tempos e que quando, este grupo ou aquele grupo estiveram ou estão no poder, não tiveram tempo para refletir sobre as transformações que ocorreram e que ocorrem na sociedade brasileira e, como disparou Boaventura de Sousa Santos, “quando o fazem é sempre por reação a qualquer acontecimento que perturbe o exercício do poder”. Oxalá que Dilma tenha aprendido isto; oxalá que se Marina chegar lá, não reproduza isto; oxalá que se Aécio tiver esta chance, não desperdice a oportunidade.

É tudo muito diferente quando ainda não estão no poder ou quando, em períodos eleitorais, querem renovar seu mandato.

Ao eleitor um conselho de meus anjos e de meus demônios, em matéria de política e de governo ‘não se iludam com milagres’, nesta área, eles não existem. Neste momento, tenho certeza que estou escrevendo mais como Professor de filosofia política do que como cidadão.

 

Cristina Esteche

Jornalista

Relacionadas

Este post não possui termos na taxonomia personalizada.

A missão da RSN é produzir informações e análises jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e rapidez, seguindo princípios editoriais de independência, senso crítico, pluralismo e apartidarismo. Além disso, busca contribuir para fortalecer a democracia e conscientizar a cidadania.

Pular para o conteúdo