Caio Budel
Guarapuava – A semana começou com a divulgação de mais um caso de estupro em Guarapuava. Uma mulher de 22 anos foi abusada sexualmente após pegar carona na saída de uma festa na madrugada do último domingo (25). O ato do agressor, no entanto, pareceu não ser a principal preocupação de muitas pessoas. Pelo contrário. Após a divulgação do caso pela RedeSul de Notícias, não foram poucos os comentários de pessoas que, aparentemente, só estavam interessadas em julgar a vítima por ela ter entrado no carro de um desconhecido, culpabilizando a mulher pelo crime que ela própria sofreu. Como se não bastasse a gravidade do ato que é o estupro, comentários negativos, que colocam em cheque a credibilidade da mulher, agravam, ainda mais, a situação da vítima.
Para a secretária de Políticas Públicas para as Mulheres, Priscila Schran, culpabilizar a vítima faz com que as mulheres que foram estupradas tenham menos vontade ou coragem de denunciar.
“Atacar a credibilidade dessas mulheres ajuda a proliferar a cultura do estupro. Essa cultura de que a culpa é da mulher por conta do comportamento que ela teve naquele momento. Isso faz com que as mulheres se sintam coagidas e elas recuem no direito delas de denunciar. O crime foi praticado e o estuprador tem que ter a sua punição”.
De acordo com Priscila, é preciso que fique implícito ao imaginário social que estupro é uma questão de violência, relacionada a um ato motivado por poder.
“O estupro é uma questão de poder sobre um corpo feminino. Em nenhum momento o estupro está relacionado a satisfação sexual. O estupro é uma agressão. Uma agressão brutal que invade o corpo da outra pessoa. A gente tem que entender que estupro é crime”.
O ato de culpabilizar a vítima, de acordo com Priscila, acontece sempre que as pessoas questionam o comportamento, roupa, aparência, horário ou lugar em que a mulher se encontra em determinada situação. Para a secretária, o estupro é um dos poucos crimes em que as pessoas tentam culpar a vítima pelo o que aconteceu.
“O estupro é um dos únicos crimes que a gente presume que a vítima está mentindo, que a vítima era culpada pelo o que aconteceu com ela. Ninguém fica duvidando de um assalto em um ponto de ônibus, ou de um assalto na saída da balada. Mas o estupro as pessoas acabam duvidando, achando que foi mentira da vítima”.
CULTURA MACHISTA
Priscila relembra que este tipo de atitude está relacionada a cultura machista em que, historicamente, estamos inseridos. Para a secretária, é comum a insistência de se ensinar as mulheres sobre como elas deveriam se comportar, mas não é falado para os homens que, na verdade, são eles que não devem estuprar.
“Então quando a gente ataca essa credibilidade, seja em comentários ou onde for, a gente faz com que prevaleça uma cultura machista, que insiste em dizer que as mulheres têm que se comportar de tal forma. Que elas não podem sair à noite sozinhas, que elas não podem beber, que elas não podem viajar sozinhas, ou que elas não podem trabalhar a noite ou de madrugada. A gente está exigindo comportamentos dessas mulheres”.
Segundo a secretária, a cultura machista resulta em homens que pensam serem donos do corpo de mulheres pelo simples fato de serem homens.
“Os homens, os meninos, eles precisam saber, entender, que a mulher não é um mero objeto. Que é ele que vai definir sobre a vida dela, ou sobre o seu comportamento. A gente tem que ensinar esses homens de que são eles que não podem estuprar ninguém. São eles que não podem se aproveitar de uma situação e acabar estuprando uma mulher”.
A fala de Priscila sobre o tema pode ser ouvida na íntegra no áudio abaixo.