sexta-feira, 20 de jun. de 2025
Blog da Cris

O frio tem nome e hoje chegou com o vento

Em Guarapuava, o frio não é só estação, é identidade. Não se fala que “o tempo virou”. O tempo apenas mostra quem manda

Frio na Morada da Lua (Foto: Orlando Silva)

Hoje o vento acordou antes de todo mundo em Guarapuava. Surgiu sem aviso, varrendo as ruas ainda sonolentas, dançando por entre os prédios e sussurrando segredos nas frestas das janelas. Não era um vento qualquer. Era aquele que chega de mansinho, mas carrega consigo um aviso firme: o inverno dá os ares da graça e agora é de verdade. E, aqui, ele nunca chega, ele mora.

Em Guarapuava, o frio não é só estação, é identidade. Não se fala que “o tempo virou”. O tempo apenas mostra quem manda. É um frio que entra pela casa mesmo com a janela fechada, se esconde sob as cobertas e, sem cerimônia, senta ao nosso lado no sofá como um velho conhecido. Um frio que não gela apenas, ele transforma.

O céu, cinza e gentil, parece combinar com o humor das xícaras nas mãos. Os casais, encolhidos sob as marquises, parecem menos com pressa e mais com vontade de durar. O cheiro de lenha acesa invade as ruas como se contasse histórias antigas, de quando o inverno era resistido com fé, fogão a lenha e conversa boa. Em cada casa, uma manta esticada, um chá fumegante, um silêncio confortável.

Mas há também um vento que fala da gente. Que convida ao recolhimento, ao toque, ao cuidado. Há beleza em viver em uma cidade onde o frio exige mais do que roupa. Exige presença. Um cobertor sozinho não basta. É preciso calor humano. E talvez por isso, Guarapuava seja, no fundo, tão afetiva. Porque é no frio que a gente se descobre mais próximo, mais atento, mais disponível.

Claro, o frio também escancara aquilo que preferíamos não ver: os que dormem nas calçadas, os que esperam por solidariedade, os que enfrentam a madrugada com coragem e nada mais. E por isso, cada gesto, por menor que seja, vira chama. Um cobertor doado, uma sopa quente, um olhar sem pressa. É quando mais precisamos uns dos outros. E Guarapuava, quase sempre, responde com o coração.

No fim das contas, viver aqui é aprender que o frio não é ausência de calor. É só um convite delicado para a gente se aquecer por dentro. Hoje o vento chegou. E com ele, aquela saudade boa de quem sabe que sentir frio, por aqui, é também uma forma bonita de pedir companhia, de acender a lareira e beber um bom vinho!

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Cristina Esteche

Jornalista

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