22/08/2023
Geral

O livro de colorir e seu poder terapêutico

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O espanhol Pablo Picasso (1881-1973) dizia que pintar significava se libertar, e isso lhe era o essencial. Para seu parceiro francês de profissão Georges Braque (1882-1963), o ato de pintar era mais importante do que a “coisa” pintada. E com essas intenções – e para se livrar do tédio das longas horas em que passa sozinha até a filha chegar do trabalho – que a aposentada Eliane Campos, 67 anos, começou a colorir. O passatempo displicente, que iniciou há um ano, tornou-se um hábito terapêutico. “ Esqueço completamente de tudo, inclusive da solidão. Enquanto preencho os desenhos, esvazio a mente e direciono todo meu pensar nas cores.”

Esse tão esperado efeito antiestresse virou tendência entre leitores – ou artistas – desde o lançamento dos livros Jardim Secreto e Floresta Encantada (ambos da ilustradora britânica Johanna Basford, publicados pela Editora Sextante, R$ 29,90 cada). Mas será mesmo possível que adultos consigam relaxar e ter melhor qualidade de vida por meio de um passatempo supostamente infantil?

De acordo com o coordenador do curso de psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) Naim Akel Filho, qualquer atividade, desde que prazerosa, pode aliviar tensões e ser terapêutica. “O estresse é resultado do acúmulo de tensão provocado pela falha dos mecanismos de resolução de conflitos. A maior expressão do sofrimento é a exaustão e, portanto, atividades de lazer podem retardar essa fase.”

A arte de colorir, segundo a psicóloga do Hospital Vita Raphaella Ropelato, pode ser explorada como uma estratégia para romper a rotina acelerada e desconectar-se dos contratempos. “Por permitir ao indivíduo um momento de descontração, em que a criatividade, a desaceleração do pensamento e a satisfação são incitadas, as emoções e os sintomas do estresse são enfrentados sem a pretensão de solucionar problemas”, explica.

Qualquer trabalho manual, por si só, possui fins terapêuticos. Ao acrescentar cores, o efeito curativo é ampliado, pois as tonalidades podem liberar emoções e evocar sentimentos. Além disso, ao orgulhar-se por terminar uma pintura e constatar que ela ficou bonita (ou melhor do que o esperado), o circuito de recompensa do cérebro é ativado: libera dopamina (um neurotransmissor que provoca a sensação de bem-estar) e o prazer é garantido.

Seria possível, então, viciar na atividade? De acordo com Akel Filho, tendemos a querer repetir, sempre que possível, estas sensações satisfatórias. Isso é saudável, desde que o divertimento não seja acompanhado de ansiedade ou sofrimento pela privação.

“Portanto, vale prestar atenção: se você não consegue controlar a ‘vontade’ de realizar esta atividade ou se isto está prejudicando e comprometendo seus compromissos, está na hora de procurar ajuda profissional”, alerta o especialista, que garante serem raros os casos que chegam a este extremo.

Cristina Esteche

Jornalista

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