22/08/2023
Brasil

O macho perde a majestade

Pronto! Bastou um global – ou melhor – dois globais protagonizarem na vida real o papel do macho inveterado, para que a violência contra a mulher retornasse à pauta em nível nacional. No caso, com pedidos oficiais de desculpas ou com declarações de que “pela minha filha eu faria de novo”. 

Vamos aos fatos: O galã veterano José Mayer assediou violentamente, sua colega de trabalho Susllen Tonani, mas depois escreveu uma carta onde admitiu o erro e disse que  “o mundo mudou” e que demorou 60 anos para aprender a lição. Fez “mea culpa” também perante todas as mulheres, incluindo sua esposa e filha. Desculpa bizarra, ultrapassada. O mundo mudou. O mundo sempre esteve igual quando se trata de machismo, de preconceito, o que pode ter mudado é a maneira como somos assediadas, discriminadas, violentadas. Não há exceção nessa regra imposta pelo macho mesmo estando no crepúsculo, porque as mulheres não se calam mais.

Outro fato coloca no centro das atenções o sertanejo Victor, aquele da dupla Victor e Leo, acusado pela sua esposa de tê-la agredido mesmo estando grávida. Em nota oficial, a polícia confirmou o indiciamento de Victor Chaves "pela contravenção penal prevista no artigo 21, do Decreto Lei 3.688, vias de fato, conforme demonstrado no laudo pericial das imagens das câmeras de segurança do prédio e pelo depoimento da vítima".

Nas redes sociais o cantor nega a agressão e diz que defendeu a filha de um ano. “E pela minha filha, o que eu fiz, eu faria de novo”.

Antes disso, na semana passada, um trecho da XV de Novembro, em Guarapuava, se transformou no cenário de mais um feminicídio. Uma mulher foi morta a tiros pelo ex-companheiro em plena tarde de sol. Mais uma vez o macho ergueu o seu topete, mirou e matou. Ele não pediu desculpas. Pelo contrário, disse que por traição faria tudo de novo. O que difere a afirmação deste homicida daquela dada por Victor ou pela escrita por José Mayer? Será que eles também não perceberam que o mundo mudou e que a mulher saiu da senzala das casas grandes e parou de satisfazer os instintos dos seus senhores?

Infelizmente, a violência de gênero impera, mas agora sob os gritos que, aos poucos, não conseguem mais ser sufocados por pedidos de desculpas, ou por passar de mão sob a cabeça como se num gesto tudo caia no fosso do esquecimento. E não importa quem seja.

Como se vê, o senhor do engenho, o chefe, o coronel, o macho, mesmo diante dos holofotes perde a sua majestade.

 

Cristina Esteche

Jornalista

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