22/08/2023

O medo de outrora já não existe mais

O Governador não terá outra saída senão reconhecer seus deméritos na gestão da máquina pública que não são poucos e sepultar de vez a falácia de seu discurso arrogante de gestor inovador e responsável. Somente assim terá condições mínimas de continuar seu mandato e honrar compromissos legais, sem investimento algum.

Ao insistir na presunção de que os servidores são incapazes de entender o óbvio, arrotando autoritarismo e distorcendo juízos, corre o risco da ingovernabilidade neste primeiro semestre.  Esquece o Governador e seus comandados, em sua pequenez e auto-ilusão, que os envolvidos no processo são pessoas esclarecidas e que, em momentos difíceis e duros, tem a capacidade de realizar uma união combativa e perseverante, articulada e estratégica, até o fim.

Não se quer favor, apenas e tão somente, o reconhecimento moral e econômico daqueles que sustentam os pilares da educação pública do Paraná que para chegar onde chegou-se, muitos sacrifícios foram realizados.

O desejo de colonizar-nos através de um projeto suspeito, no afogadilho, foi desmascarado rapidamente e o que se quer é “diagnosticar o que foi feito de errado”, “de que forma”, “quem deve arcar com as consequências”, “como impedir que isto volte a acontecer” e,   por último,  “o que deve acontecer aos responsáveis” de forma democrática e transparente e não impor aos servidores públicos um remédio tão amargo que compromete a saúde de nosso presente e de nosso futuro.

Seria tolice negar que não estamos com problemas. As declarações do atual Secretário da Fazenda de que “estão contando as moedas” e  “que já contavam  com o dinheiro do Paraná Previdência para este mês” e, ainda, “que não dá para assegurar o salário de fevereiro”,  se verdadeiras, além de preocupantes, são catastróficas para um Governo que acabou de se reeleger. Do Jeito que está, nenhuma Universidade Estadual  tem condições de iniciar as aulas, por exemplo. Em muitas escolas estaduais, a melodia não é diferente.

A verdade mais desagradável e traumática de hoje é que algo precisa ser feito, disto sabemos, mas antes de propor/impor um pacote tão assustador àqueles que ajudam a carregar o Paraná, seria preciso primeiro, dar exemplo de austeridade interna e institucional de todos os Poderes reinantes para somente depois dialogar/argumentar, de forma clara e democrática, sobre ‘possível’  contrapartida de todos neste cenário de crise. Ao chamar Professores de baderneiros, demonizando-os e despersonalizando-os, escancara a tese de que em sua convicção estes não são pessoas normais e sensatas que em períodos eleitorais chegou a declarar e reconhecer, mas sim monstros perigosos que precisam ser execrados com pimenta e cachorros. Todavia esta classe expressa o sentimento de um conjunto de cidadãos que podem destituí-lo de toda e qualquer função em uma rescisão contratual imediata.

O mais surpreendente, para não dizer incompreensível, é que tudo isto não aconteceu nos últimos 05 (cinco) meses e, por esta razão, seu estelionato eleitoral precisa ser criminalizado e sua incompetência administrativa precisa ser condenada, pois foi com o discurso de que ‘o melhor está por vir’ que ludibriou milhões de Paranaenses, incluindo dentre eles servidores públicos, seus familiares e amigos.  Trata-se de uma nova tirania neoliberal, totalitarismo soft ou fascismo liberal em nosso Estado, inspirada e/ou plagiada em modelos de outros Estados que até hoje sofrem com a insensibilidade à educação pública e a seus protagonistas principais.

De tudo isto se tem a certeza de que os tempos mudaram e que esta ‘suposta’ reação exagerada  dos servidores foi tênue por aquilo que pode vir a ser. Conhecidos historicamente como uma população conservadora, paranaenses civilizados e qualificados começam a vivenciar uma impaciência pedagógica que tem potencialidade para pautar um novo tempo na esfera pública paranaense.  Viu-se que o medo de outrora já não existe mais e a comprovação disto é que não se viu máscaras e não se viu violência descontrolada, apenas um ensaio de ira para impedir que o caos fosse consumado em uma dose única e letal.

Cristina Esteche

Jornalista

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