22/08/2023
Cotidiano

“O meu mundo caiu”

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“ O meu mundo caiu. Perdi o chão”. A frase traduz o que dois soropositivos que moram em Guarapuava sentiram quando receberam a notícia da doença.

“A minha primeira reação foi de auto-rejeição, de desespero. Eu pensei como conviveria com minha família e que nunca mais poderia fazer comida”, diz G.S.S, 62 anos e que convive com a doença há 12 anos.
“Sempre achei que nunca aconteceria comigo e quando soube entrei em depressão profunda. Me tranquei e não queria contato nem com meus filhos”, diz V.S., 47 anos, há seis anos convivendo com a Aids.

 

As histórias são comuns aos dois pacientes atendidos pelo Serviço de Assistência Especializada (SAE) e que se propuseram a conversar com a RSN.

 

G.S.S, que mora nas proximidades da Rodoviária Municipal de Guarapuava, foi contaminada com o vírus HIV durante uma transfusão de sangue. “Fiz uma cirurgia de vesícula e comecei a ter febre muita alta, infecção. Passei por vários exames, mas o médico não conseguia descobrir o que eu tinha. Cheguei a fazer o exame de HIV, mas deu negativo. Depois de um ano da transfusão eu já não andava mais”, conta G.S.S.

 

De acordo com a paciente, um dia o médico a chamou e lembrou que ela tinha feito uma transfusão de sangue. Por isso, pediria um exame de HIV. “Aquelas palavras não saíam da minha cabeça, mas fiz o exame”. Quando o resultado saiu, G.S.S foi a última a saber do resultado. “Meu esposa, meus dois filhos, minha comadre, todos sabiam que o resultado era positivo, menos eu. Um dia minha comadre me levou até a Igreja dos Freis e foi lá que fiquei sabendo. Foi como se tivessem cortado a metade da minha vida.

Eu não tinha informação sobre a doença e passei a achar que eu era uma pessoa inútil, não queria nem fazer comida”, relembra.

O tratamento no SAE e as informações durante o Encontro Nacional de Mulheres Soropositivas mudaram a vida de G.S.S. “Hoje eu digo que sou uma vitoriosa. Tomo o coquetel, embora os efeitos colaterais sejam muitos. Já não posso mais comer frutas e verduras que substituo por suplemento alimentar. O que me preocupa é a minha idade, pois acho que as coisas vão se complicando. Outra coisa que machuca é o preconceito, os comentários que fazem. Isso dói muito”, confessa.

“A MULHER É QUEM NÃO QUER O PRESERVATIVO”

Esse drama é vivido também por V.S. 47 anos, que mora no Bairro Bonsucesso. Ele é soropositivo há seis anos e contraiu o vírus durante relação sexual. “Eu descobri por acaso. Eu estava namorando e ela pediu para fazer o teste. Fiz e recebi a notícia. Eu já era depressivo e caí em depressão profunda. Sofri um derrame, tive pneumonia dupla e por pouco não morri”, conta. O amor, a compreensão dos filhos e o apoio de médicos e da equipe do SAE devolveram ao paciente a vontade de viver. “Sofri muito preconceito, inclusive de médicos que não quiseram me atender quando souberam que eu tinha Aids. Mas também encontrei pessoas abençoadas como o Dr. Claudinei”, reconhece. V.S., que é viúvo, conta às suas parceiras que é soropositivo e as conscientiza sobre o uso de preservativos. “A maioria das mulheres querem uma relação sem camisinha, mas eu não permito. Preciso me cuidar e evitar que contraia outro tipo de doença o que agravaria o meu caso. Eu me cuido muito em todos os sentidos”, diz.

 

De acordo com V.S. a mulher que o contaminou é uma senhora hoje com 72 anos de idade. Ela sabia que era soropositivo e mesmo assim não avisou o parceiro. “Minha filha foi à casa dela e viu o coquetel de medicamentos na geladeira. Foi aí que descobrimos que foi ela quem transmitiu o vírus”, diz.

Cristina Esteche

Jornalista

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