22/08/2023

O momento é pouco alegre

Quando se sabe que no Rio de Janeiro o segundo colocado foi o voto branco em parceria com o nulo e abstenções e que no Brasil aproximadamente 38 milhões de eleitores fizeram o mesmo, têm-se claro em que estágio está a credibilidade do atual sistema político e o desempenho de nossos atuais homens públicos.  É algo jamais visto em nosso País.

Cada dia fica mais cristalizado que o brasileiro está entre a cruz e a espada, ou seja, uma parte da sociedade ‘radicalmente’ temerosa diante da ameaça de uma retomada do neoliberalismo e de um governo estigmatizado de elitizado que um dia deu certo e depois fracassou, mas que diz que consertará o Brasil e uma outra parte da sociedade ‘radicalmente’ raivosa com a possibilidade de manutenção de um modelo de gestão que já foi melhor e que se arrasta para manter o discurso social e de democratização de oportunidades, estigmatizado pela conivência da corrupção e do aparelhamento do poder. Há ainda um terceiro grupo que não  quer avalizar nem o diabo, nem lúcifer. E daí ?

O cinismo, ironia e a paródia talvez sejam alguns medicamentos que o cidadão crítico possa utilizar para conviver com dias tensos onde a política mais divide que une, em um saudável contraponto a tudo que o se vê. O último debate, apelidado de debatédio, lembrando uma luta de artes marciais onde os oponentes agridem e são agredidos na exata medida, diferente dos anteriores, onde os nanicos (Levi Fidelis, Pastor, Eduardo Jorge e Luciana Genro) apimentavam o disputatio com originalidade e espontaneidade resultando em um suco melhor e mais palatável. O debate mostrou o óbvio, ou seja, o diálogo entre surdo e mudo, até porque neste último debate o que mais se ouviu foi “leviana” e “mentiroso”. Foi hilário ler José Simão que se expressou assim: “A Dilma não é leviana, é pesadana! E o Aécio não é nepotista, é netista: só fala do avô!”.

O saldo que se vê é uníssono. Uma parte expressiva da classe média está decidida a tentar impedir a manutenção do PT com muita adrenalina para não usar a palavra que o PT estabeleceu,  ódio.  Mas não nos iludamos, a classe média não é a rua e é nisto que o atual partido que governa o Brasil se prende e de forma nunca antes visto neste País, gasta tanta  energia.

Não quero acreditar que o país está realmente dividido entre direita e esquerda, ricos e pobres, informados e desinformados, como mostra as pesquisa de intenções de voto nos candidatos e os discursos dos candidatos e seus apoiadores. Na verdade, temos mais convergência de opiniões que propriamente divergências.

Confesso que estou impressionado com a disposição do Governo em sem manter no poder apesar de debilitado pela debilidade da Presidente. Ela é muito menor que o governo e poderá ser mantida mesmo assim, em nome de um sentido diferente de governar. Da mesma forma, nunca vi os tucanos tão afoitos, tão animados, sensibilizando até mesmo os mais apáticos.

Vladimir Safatle está certo quando diz que a política divide. Se não no começo, no meio, senão no meio, no fim, mas o resultado é sempre o mesmo: conflito.  Pessoas se expõem por nada ou quase nada. Sentem dores que não são suas, mas como se fossem. Tucanos e Petistas estão conseguindo a proeza de dividir o Brasil sem apresentar algo bom para o País.

Não é algo demoníaco, até porque com ela (a política) pode-se fazer algumas coisas boas, sendo uma delas, mostrar que somos diferentes e que temos opiniões diferentes.

Temos algo a comemorar, portanto,  positivo. O fato é que ‘bem ou mal’, voltou-se a falar de interesses esquecidos e de temas polêmicos que precisam ser debatidos publicamente.  Neste quesito, Eduardo Jorge e Luciana Genro foram bem.

Aqui mais perdemos que ganhamos, afinal na eleição de 2010, elegemos 03 Deputados Estaduais e um Federal. Hoje o momento é pouco alegre. Assim, com urgência, precisa-se rever a tática, procurar um terreno mais seguro, convencer os concidadãos e ampliar as alianças.  Do contrário chegará um momento que não teremos representantes e derrotas não imaginadas começarão a ser desenhadas.   O que nos falta? Pessoas com visão nacional com capacidade de agir localmente.  Precisamos de mais lideranças que ajudem nossas atuais lideranças a pensar diferente, com novos olhares, novos métodos e novos encaminhamentos. Cabe aqui à metáfora do capitão que prevê um desastre e ao invés de antecipar-se, decide encalhar o navio para salvá-lo. Não merecemos ficar encalhados.  Pode até salvá-lo, mas isto não é regra, uma vez que a história tem exemplos extraordinários a este respeito.

Dr. Claudio  César de Andrade

Professor do Departamento de Filosofia da UNICENTRO.

Escreve no blog www.guarapuatube.com.br

 

Cristina Esteche

Jornalista

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