22/08/2023
Esportes

O Movimento Passe Livre e a Copa do Mundo

Poderia neste momento, escrever sobre a Copa das Confederações e nela a atuação de Neymar e da Seleção Brasileira, ou sobre os jogos de Itália, México e Espanha. Poderia ainda escrever sobre o grande momento do esporte guarapuavano ou até mesmo quem sabe sobre a provável classificação do CAD para a 2ª fase da Liga Nacional. Mas, o assunto que realmente me instiga a escrever está posto nos mais diferentes meios de comunicação em meio a uma grande cobertura da imprensa nacional para os protestos que aconteceram em São Paulo, e que novamente acontecem em várias partes do país nesta segunda feira (17).

Num estalo percebi a grandeza de tudo aquilo, percebi que aqueles manifestantes enfrentando policiais poderiam de alguma forma mudar o país. Confesso que o espírito do ativismo passou por mim e, então não tive dúvidas, larguei o que escrevia para redigir este esse post.

Mas o que o esporte tem a ver com o aumento das passagens de ônibus em São Paulo? Pensar que toda essa onda de protestos tenha sido causado pelo aumento de  20 centavos na tarifa é  querer tapar o sol com a peneira. O rombo é muito maior, a indignação do povo é gritante e ganha força nos mais diferentes lugares.

Ao mesmo tempo em que policiais e manifestantes ocupavam as manchetes, outras manifestações aconteciam em varias cidades brasileiras como: Porto Alegre, Rio de Janeiro e Brasília, contudo, em muitas delas a passagem de ônibus nem chegou a ser alterada.

A revolta acontece pelo cansaço do brasileiro em conviver com as mazelas sociais, descaso das autoridades e dificuldades econômicas. É nesse contexto que o esporte, em especial os grandes eventos esportivos como a Copa das Confederações, Mundial da FIFA e Olimpíadas se inserem.

Há alguns dias li um artigo de Alexandre Versignassi (ver artigo aqui) que de forma simples explicou o complexo cenário econômico em que o Brasil se meteu ao querer sediar tais eventos econômicos. Basicamente o problema todo é o seguinte: Para construir estádios e praças esportivas o Governo imprimiu, em pouco tempo, uma grande quantidade de dinheiro (47 bilhões em 3 anos). Com mais dinheiro circulando, o aumento do consumo em algumas áreas também foi maior, o problema todo é que os setores não estavam preparados para a demanda gerada e o único modo de dar conta e " faturar" era aumentar o preço dos produtos.

Um aumento leva a outro e, ao final, o mercado inflacionou. Muitos estufaram os bolsos com as tais “obras “da Copa do Mundo, mas a maioria continuou ganhando salário mínimo e tendo que conviver com preços mais altos.

Problemas como esse não são novidades. Recentemente a Grécia viveu uma grave crise econômica que guarda relação com os gastos exorbitantes para a realização das Olímpiadas de 2004. A diferença é que no Brasil essa “bomba” estourou antes mesmo da atração principal.

Muitos foram crucificados por defender uma Copa fora do nosso país, mas agora parecem serem os donos da voz da razão. Talvez eles estivessem certos, talvez realmente ainda não tenhamos a capacidade de sediar uma Copa do Mundo.

Menos preocupado com os rumos da Copa do Mundo ou com a atuação da Seleção Brasileira na Copa das Confederações, a preocupação maior recai com a situação e o futuro do país. Espero e torço para que as mobilizações "país a fora", impulsionada pela Copa das Confederações, nos levem a um conceito de nação, a um Brasil enfim cinco estrelas.

Cristina Esteche

Jornalista

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