22/08/2023

O novo layout da participação política

Saber governar-se, sem sujeitar-se a isto ou aquilo e dia após dia qualificar nossa autonomia é o sonho de consumo de qualquer cidadão esclarecido ou em vias de ser considerado politizado e emancipado. Mesmo que sejam poucos ainda, o número de pessoas com esta intencionalidade tem aumentado enormemente. É bem verdade que entre o falar o e fazer, temos uma grande diferença.

Mesmo assim, a tão sonhada ‘objetividade’ que muitos teóricos sugerem no campo da participação política tem uma avenida pela frente, não sem dificuldades e adversidades.

Assim, de norte a sul, o grande desafio que nos é colocado é: como criar um novo movimento político e social com capacidade de vencer eleições, em curto prazo?

Como criar movimentos que funcionem como partidos ou algo do gênero, em condições de concorrer de igual para igual com as forças tradicionais?

Não há dúvida que a objetividade exige que causemos mais efeitos concretos do que ensaios e especulações. Aliás, como afirmou Antonio Negri, política objetiva significa fazer e não simplesmente fazer astrologia sobre dominação.

Para convencer mais pessoas a pensar desta forma, os atuais protagonistas estão focados no calibre de um alvo certo que não é outro senão vencer eleições, escrever legislações, governar nossas cidades. Este novo desenho é o grande investimento de novas lideranças no cenário pós-indignação e que começa ganhar eco em vários horizontes. Assim, o que se quer é um maior investimento em fazer algo sólido do que apenas aparecer, protestar e voltar para suas casas aguardando o próximo evento.

Todos os indicativos apontam que a única forma de vencer é criar algo híbrido entre redes sociais politizadas, movimentos sociais independentes de cores e partidos políticos.

O novo layout apresenta uma nova modalidade de gestão onde não haja um único protagonista,  sem líderes formais, mas sim ‘porta-vozes’ e, preferencialmente uma organização que dure mais que um inverno. 

Em que pese a potencialidade inigualável das redes sociais neste novo cenário, é preciso zelar para que não haja sobreposição do virtual sobre o real.  Um cuidado especial que é recomendado por teóricos de porte como Vattimo, Agamben e até mesmo Habermas é que saibamos usar de maneira inteligente as experiências virtuais, sob pena de ser nosso maior calcanhar de Aquiles, ou seja, o lado negativo de otimizar mais experiência teórica que prática, mais  experiência do teclado do que das ruas e praças.  Por tudo isto, tal ferramenta não deixa de ser uma faca de dois gumes.

De qualquer forma, o que se vê em várias partes do mundo é uma movimentação diferente que visa claramente incomodar o poder e não agir apenas com aquilo que parece ser seguro.

Apesar de avanços significativos no layout de novas participações políticas, temos claro que nosso grande adversário continua sendo o poder econômico, uma vez que o dinheiro continua conduzindo governos e com as atuais regras aprovadas, será difícil vencer sem ter algum dinheiro.

 

Cristina Esteche

Jornalista

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