22/08/2023

O que eu vi!

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Nem mesmo a gripe chata que me acomete nos últimos dias foi obstáculo para que saísse às ruas na manhã deste sábado (22), em Guarapuava. Queria ver de perto e, principalmente, registrar a mobilização que prometia – e foi – uma das maiores já vividas na cidade nos últimos anos. Aliás, vou arriscar – e de antemão faço mea culpa se estiver equivocada -, mas foi a maior mobilização popular generalizada que tomou conta, pacificamente, das ruas da centenária Guarapuava.

Gostei do que vi. Muito mais do que isso, vibrei com as cenas que presenciei. Eram homens, mulheres, crianças, adolescentes, jovens. Cara pintadas ou não, mas com a alma sendo lavada numa das maiores demonstrações de patriotismo que já registrei em Guarapuava. Olhando para aquela multidão, vi rostos de pessoas conservadoras, de esquerda, militantes de partidos políticos, jovens cooptados, jovens que tentam tirar proveito e fazer de movimentos estudantis um trampolim para a política ou para o seu próprio emprego, mas eles estavam lá misturados a um número bem maior de outros jovens e de pessoas  que só pedem mudanças. Vi donas de casa, trabalhadores, empresários, profissionais liberais, ruralistas, agricultores familiares, desempregados; pessoas que já se assustaram com manifestações e que hoje se incorporam a elas. Guarapuavanos, brasileiros que assim como eu estão cansados de enganação, de promessas vazias, de tanta corrupção, de ver pessoas  chegar onde pretendiam simplesmente para tirar proveito em benefício próprio e dos seus. Vi e ouvi pessoas bradarem palavras de ordem pedindo basta. Basta a tudo o que os incomoda.  Li frases estampadas em cartazes improvisados que  soaram forte. Pena que quem deveria ler e ouvir não saiu às ruas para sorver o maior exemplo de cidadania, um movimento legítimo  avalizado pela democracia.

No final, já em casa, tomando chá e inúmeros remédios para amenizar os efeitos da gripe, ainda ouço o Hino Nacional, uma canção que nunca foi cantada com tanta empolgação como nos últimos dias pelo Brasil quando a Nação  foi vestida de verde e amarelo pela indignação popular.

O que vi hoje realmente eu nunca tinha visto antes. E olha que  já fui ativista, já participei do movimento das Diretas Já e do Fora Collor, e de tantos outros protestos e concentrações específicos.

Entre um gole e outro de chá, vendo as imagens da manhã deste sábado passar como um filme em minha mente, torço para que essa movimentação ganhe consistência e que as pessoas se tornem efetivamente fiscais permanentes dos gastos públicos, das ações públicas. Que as redes sociais que serviram como canal de mobilização continuem sendo um instrumento diário  de monitoramento do que está sendo feito com o dinheiro público nas diferentes esferas de governo. Que as frases estampadas nos cartazes não fiquem apenas como letras coloridas em  pedaços de papel.

Enquanto tudo isso contonua muito vivo na minha memória,   continuo ouvindo as músicas que escolhi como trilha sonora desta tarde fria do inverno guarapuavano, curtindo um chazinho de gengibre com mel e esperando que esse vírus que me acomete vença o seu ciclo. Enquanto isso, Milton Nascimento que me empresta a sua voz como companhia, continua a cantar…….” Como beber dessa bebida amarga…Tragar a dor e engolir a labuta? Mesmo calada a boca resta o peito… Silêncio na cidade não se escuta”…..

Cristina Esteche

Jornalista

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