22/08/2023

O que não pode é não fazer nada

Não se nasce cidadão, torna-se um. O momento está propício para esta gestação.  E isto não acontece do acaso, é preciso dispor-se a pagar um alto custo e além de sentir a indignação, indignar-se quando se percebe que a lógica predominante entre os atuais sujeitos políticos está ‘anos luz’ do que deseja a sociedade. Portanto, uma verdadeira luta de classes está em gestação entre aqueles que ocupam o poder e a sociedade que quer alterar a dinâmica do poder. A utopia de ver todo homem e mulher ocupando um lugar especial na sociedade (nem inferior, nem superior) e uma função na coletividade, portanto uma vida digna, ideal entre civilizados e seres humanos neste atual sistema político, está cada vez mais distante. Cada um a seu modo precisa fazer algo para que esta distância possa diminuir ao invés de aumentar. É preciso um movimento de interações espontâneas que evidencie que a representatividade não seja uma ficção, apenas cartorial ou exclusivista e que quando estiverem à frente desta representação, expressem a vontade da coletividade plena.   O que não pode é não fazer nada e deixar a coisa como está.

Em grande parte, alimentamos a tese de que a crise política que está posta é meramente uma crise de representação e que se melhorarmos a representação, a casa será realmente de todos e de não alguns proprietários apenas.   A verdade que transparece, cada dia com mais intensidade, é que ‘neste momento’ sujeitos políticos não constituem o povo ou não expressa em ações o sentimento da base. Não existe sincronia e coerência entre o que se diz ‘representante’ e o que se pensa ‘representado’. Daí uma relação que não tem dado certo em sua inteireza. É bem verdade que não há como o povo governar em sua essência (multidão no poder), precisando que alguém possa fazer pela coletividade o que quer a coletividade. Por estar razão, nesta arena, não está havendo consenso político, o que há é sobreposição de ‘ interesses individuais’ sobre ‘interesses coletivos’.  Isto está cada vez mais claro. Ao dizer e jurar que irão representar a coletividade, querem na verdade impor sua lógica própria sobre todos.  Esta dinâmica precisa mudar imediatamente.  A prova inconteste disto é que enquanto você está lendo este texto que idealiza uma sociedade mais igual, o fisiologismo e o clientelismo do Legislativo; o privilégio, a hipocrisia e a morosidade do Judiciário e a negligência e falta de liderança do Executivo nos trucidam. Daí nossa dificuldade em lidar com a democracia, até porque ela é, como frisou Renato Janine Ribeiro, de todos os regimes políticos, o que mais exige dos cidadãos. Somente nela, as mesmas pessoas que obedecem mandam. Somente nela, portanto, não se legisla basicamente para os outros, mas para todos, isto é, para si mesmo e os outros. Eu ainda acredito que uma revolução de costumes seria muito mais necessária e válida do que qualquer mudança no regime político em si. Assim, tanto os ‘sujeitos políticos’ quanto a sociedade, precisam rever suas formas de vida, sob pena deste embate se aproximar de fato em uma luta de classes ou até mesmo em uma nova modalidade de guerra civil. 

Cristina Esteche

Jornalista

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