O que nos falta é um governo legítimo, não perder mais e a projeção de ganhar o mínimo em matéria de economia e direitos.
Entre os candidatáveis à Presidência da República não temos um Macron razoável (referência ao presidente eleito da França) entre os postulantes. Temos de tudo, menos alguém que inspire uma razoável confiança e tenha fôlego para pautar o sistema político.
O grau de envolvimento dos brasileiros em política nos próximos meses tende a ser o mínimo do mínimo. As ações políticas serão turbinadas se visarem uma transformação com a coisa pública [ mesmo que pequena ], coisa muito difícil no tempo presente. Já a “prevenção do mal” (política de contenção ou medidas impopulares em curto prazo) não leva ao mesmo engajamento. É por esta razão que candidatáveis do governo de plantão não terão êxito, ao passo que é quase certa a vitória de alguém que se posicione contra medidas duras do atual governo e que vislumbre uma fórmula diferente para a solução de nossos problemas.
O engajamento político [em extinção em nosso país] costuma acontecer quando os cidadãos se deparam com um forte discurso de mudança. Daí que simpatizantes de candidatos de centro-esquerda tendem a se manifestar mais que candidatos de centro-direita. Logo os torcedores dos que advogam por mudança tem força para turbinar uma campanha eleitoral e fazer a diferença.
Para se ter uma idéia do efeito da crise e das conseqüências da insegurança de nosso povo com as transformações negativas de nossa economia, o brasileiro tem demonstrado maior inclinação e interesse por não perder (aversão à perda) do que propriamente ganhar (busca de ganhos). Esta é a senha para compreender nossa percepção neste momento.
Mesmo assim, sabe-se que a prevenção/planejamento para enfrentar dias piores não entusiasma. O que entusiasma em matéria de política é a possível projeção de dias melhores, bandeira daqueles que são críticos às ações deste governo vigente.
O fato é que hoje não temos alguém que nos conduza para o caminho considerado certo. Não temos alguém que representa uma oportunidade de mudança concreta. Temos incendiários, culpados, cúmplices e atenuantes, mas não temos alguém com força para drenar o sistema político e pavimentar com argumentos e ações um cenário diferente. Temos nomes menores que o sistema político e que certamente tendem a serem absorvidos pelo mesmo. Portanto temos um sistema político que continuará pautando ações divorciadas em relação à vontade da maioria.
A ação política em nosso país está presa em fundamentos que não são políticos. Como escreveu Marilena Chauí, se tais fundamentos não forem demolidos e substituídos por um governo de exceção [razoável e equilibrado], nossas chances são mínimas.
Neste período mórbido [cinzento] o governo joga com o medo da população e os opositores do governo insistem na esperança. Ora medo e esperança sempre foram instrumentos fortíssimos de toda e qualquer dominação política.
Falta-nos uma liderança estabilizadora que concilie a legitimidade do governo, o não perder mais e uma projeção de ganhar o mínimo em matéria de economia e direitos.
Sem isto patinaremos por mais um período e continuaremos com medo e com esperança.