22/08/2023
Blog da Cris

O que o público busca: a estrela de TV ou a essência da poesia?

Público esperava o ator global e sua dramaticidade, mas recebeu a 'leitura branca' e despretensiosa, levantando questionamentos sobre a essência da arte

Ator global Thiago Lacerda (Foto: Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul)

A apresentação do ator global Thiago Lacerda no Teatro Municipal Marina Karam Primak, na última quarta (15), em Guarapuava, cumpriu o papel de mobilizar o público, mas falhou fragorosamente em satisfazer expectativas. Esse é o cerne do debate cultural que se instala após a atração principal do projeto.

Ele é lindo, simpático, acessível, mas, para a maioria, deixou a desejar. A dicotomia reside no confronto entre a Persona do Ator e a Proposta Artística. O público que lotou o teatro, atraído pelo peso do ‘galã de Terra Nostra em reprise’, esperava o Thiago Lacerda ator. Aquele habituado à impostação vocal e à dramaticidade que traduzem a emoção em um grande espetáculo. Esperavam uma performance cênica dos poemas de Mário Quintana.

O que ele entregou, no entanto, foi uma ‘leitura branca’, despretensiosa. Sentado em uma cadeira, sem qualquer empostação de voz ou interpretação que o identificasse com o ‘Thiago Ator’, ele simplesmente leu. Foi uma escolha artística que desvia o foco da ‘estrela’ e o concentra na simplicidade e na força da poesia cotidiana de Quintana.

A decepção massiva não é uma crítica à qualidade da leitura em si, mas sim à gestão de expectativas em um projeto cultural que utiliza a fama como chamariz. O público, consumidor do espetáculo da celebridade, sentiu-se frustrado ao receber a pureza da arte. A ‘leitura simples’, ‘cotidiana’, que valoriza o texto em sua essência foi interpretada como falta de empenho ou de talento para quem esperava o brilho do palco.

Entretanto, esse debate é a própria prova de que a arte está viva. No contraponto, há quem aprecie a seriedade da ‘leitura branca’, que permite à palavra do poeta ressoar sem a interferência do ego ou da técnica dramática do intérprete.

A arte é assim: democrática, livre e promotora de debates. O sucesso da noite, em última instância, não está na unanimidade dos aplausos. E sim na discussão que se seguiu sobre o que, afinal, o público vai buscar quando um ‘global’ vem ler poesia: a estrela de TV ou a essência da palavra? A mobilização foi um êxito; a comunicação da proposta, um questionamento necessário. E é esse questionamento que mantém o teatro vivo.

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Cristina Esteche

Jornalista

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