22/08/2023
Cotidiano Em Alta Guarapuava

“O ronco do motor já me acalma”, conta motorista de Guarapuava

A Jessy Tonatto foi a 1ª motorista da Pérola do Oeste e está atrás do volante há 24 anos. Ela contou sobre o preconceito e orgulho do serviço

Motorista Jassy Tonatto (Foto: Vallery Nascimento/Portal RSN)

Quem entra no ônibus dirigido pela Jessy Tonatto é recebido por um sorriso gentil e um ‘boa tarde’ alegre, mas nem imagina que está olhando para a primeira motorista da Pérola do Oeste em Guarapuava. As mãos ágeis no volante e a risada única mostram que a paixão dela está ali, apenas ouvindo o ronco do motor. Seja dirigindo ônibus, caminhão ou até trator, ela conseguiu criar as duas filhas, ver os netos nascerem e agora, está aguardando o primeiro bisneto.

Agora não penso mais pegar [para dirigir] caminhão, só quero ficar com a família. Esse ronco do motor já me ajuda, é terapêutico. Quando eu fico em casa, de férias, só consigo ficar alguns dias, pois eu gosto disso aqui. Por isso eu digo, é bom trabalhar com o que gosta, até quando está difícil a vida, pode ser difícil estar aqui, então é melhor amar o que faz.

A Jessy trabalha há 24 anos como motorista. A história atrás do volante começou cedo, nas fazendas da família. “Aprendi a dirigir com meu pai e minha irmã mais velha aos 11 anos, daí lá eu tocava trator pelas fazendas”. O amor por conduzir fez com que ela escolhesse a estrada, do que estudar. “Não terminei o segundo grau, um dia me disseram “Você não quer ser motorista de caminhão?” e aí eu peguei pra dirigir na estrada e não voltei. Não nasci pra ficar em casa, nem sei cozinhar. Eu amo crianças, se fosse um dia para escolher outra profissão, seria professora. Mas eu gosto do que eu faço”.

A paixão por estar no volante não é incomum, está no sangue da família. Jessy carrega o nome Tonatto, pois é sobrinha do primeiro dono da Pérola do Oeste. O tio fundou a empresa, porém vendeu tudo para seguir o grande amor da vida dele. “Se ele não tivesse feito isso, talvez hoje a gente não seria peão né?! (risos). Mas foi assim que eu entrei”.

Além dela, há apenas outra mulher que faz parte da equipe dos motoristas. No entanto, Jessy relembra que quando ela entrou havia outras companheiras. Mesmo assim, o preconceito ainda era grande entre a ‘mulherada’ da cidade. “Os que mais me levantavam eram os homens, eu via muita inveja das outras mulheres, falavam mal da gente. Já cheguei na mulher e disse que ela não me conhecia, e sempre trabalhei pra comprar leite e comida para minhas filhas”.

Apesar de tudo isso, Jessy veste o uniforme com orgulho. Ela diz que a maior alegria da vida dela, foi poder formar a filha em direito. “Graças a Deus eu consegui, Deus me deu saúde para dar boa vida para as minhas meninas e uma delas já está formada e é advogada”.

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Vallery Nascimento

Jornalista

Jornalista formada desde 2022 pelo Centro Universitário Internacional - Uninter. Além do amor pela comunicação, ela também é graduada em Letras com habilitação em inglês. Apresenta o Giro RSN de segunda a sexta, às 18h nas redes sociais do Portal RSN.

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