22/08/2023
Brasil

O saldo é positivo

Terminado o processo eleitoral no Brasil, o cidadão se depara com inúmeras análises e reflexões sobre o saldo eleitoral. Aqui não é diferente. Prevaleceu a lógica da recondução do atual Prefeito com uma campanha robusta e uma propaganda eleitoral muito superior a tudo o que se já viu em Guarapuava. A indecisão de muitos durante a campanha foi transformada em voto útil para derrotar o PT nacional e local. 

Preocupações à parte, até porque hoje há muito mais coisas para se preocupar [leia-se reforma previdenciária, reforma do ensino médio, dentre outras] mais de 20.000 eleitores não votaram nos 04 (quatro candidatos da majoritária), optando por não comparecer, votar em branco ou anular seu voto. 
Fato que chamou a atenção foi a cidade ter se transformando, nos últimos dois meses, em um curioso canteiro de obras, além do apoio declarado ou velado de dois grupos políticos constituídos e rivais em favor da candidatura do atual Prefeito. A avalanche foi exagerada e produtiva.  
Por outro lado, apesar do declínio petista no Brasil, extramente visível até mesmo no ABC paulista, o candidato local, em relação às eleições municipais de 2012, saiu de 30.150 votos para os atuais 32.740. Tal fato merece uma análise criteriosa, pois dentro da lógica nacional, a votação petista local teria que encolher e não crescer. Assim, é precipitado dizer que em Guarapuava o PT foi derrotado. Em um raciocínio leve, o médico petista continua tendo muita aceitação e isto se deve mais à sua história de resistência ao poder instituído ou ao poder pelo poder do que propriamente projetos inovadores consistentes para a cidade. 
Parece que as circunstâncias foram extremamente generosas ao Prefeito. Primeiro pela estranha ausência do candidato Fernando Carli no pleito; segundo pela grande rejeição da opinião pública a tudo o que diz respeito ao PT e do apoio ‘quase’ gratuito do grupo Matos Leão ao staff do paço municipal. Evidente que é nosso dever de ofício reconhecer também os méritos do atual Prefeito que, diga-se de passagem, não são poucos.    
Quanto aos demais protagonistas, Gago e Nieckars, é uma heresia não reconhecer a importância de suas participações. O primeiro, controvertido por especulações acerca de sua cor partidária, conseguiu aparecer mesmo sem convencer. Todavia, foi um ensaio que precisa ser considerado.  O segundo, mesmo sem aparecer como gostaria, convenceu 4.397 eleitores com uma campanha literalmente franciscana e com uma visibilidade para lá de mínima. Com uma ‘enorme’ equipe de 14 pessoas filiadas em seu partido, soube usar as redes sociais atraindo em curto período de tempo uma legião de pessoas esclarecidas, carentes por novas lideranças e por novos projetos. 
Sobre esta questão, sabe-se que não houve ideia verdadeira alguma que não tenha começado com dificuldade, com alguma resistência e, em alguns casos, até mesmo errando. 
Em terra de proprietários que se orgulham da afirmativa “esta terra tem dono” não é fácil marcar posicionamento diferente do convencional e buscar o contraponto, mesmo com diálogo e uma arbitragem positiva. Gago e Nieckars sentiram isto na pele. Restou a lição de que, em sua grande maioria, os eleitores locais continuam a agir produzindo os mesmos erros de sempre.
A grande surpresa ficou por conta da derrocada de muitos vereadores que não imaginavam tamanha fúria da população  e a emergência de uma safra de eleitos que tem tudo para  democratizar opiniões distintas. Trata-se de um alento.   
Foi Heidegger [o grande filósofo] que um dia escreveu: quase sempre agimos para não pensar, ou seja, avaliza-se a velha assinatura para que novas questões não apareçam, nem fórmulas de responder a velhas questões.

 

Cristina Esteche

Jornalista

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