22/08/2023

O silêncio dos bons (*)

Guarapuava – Por  Carlos Fernando Huf

Na semana passada a revista Carta Capital, a única que não faz parte do PIG-Partido da Imprensa Golpista, publicou a seguinte denúncia do Denasus, órgão de auditoria do Ministério da Saúde: os governos de São Paulo (PSDB), Minas Gerais (PSDB), Rio Grande do Sul (PSDB) e Distrito Federal (DEM), há anos vinham desviando centenas de milhões de reais das verbas federais destinadas à saúde. Em vez de ser aplicado na melhoria dos serviços do SUS, o dinheiro era aplicado em CDBs (mercado financeiro), e nos seus “ajustes fiscais”.
Ou seja, matavam dois coelhos com uma só cajadada. Enquanto desviavam o dinheiro recebido de Brasília para mostrar a “eficiência” dos administradores dos governos de oposição ao Governo Federal, mantinham os serviços do SUS no estado que se conhece, para que o povo reclame de quem? Do Governo Federal.
E o PIG, nesse tempo todo? Claro que nem publicou nem vai publicar uma linha sobre o assunto. Sardenberg e cia. vão continuar omitindo, distorcendo e enganando, em sua luta desesperada pela volta dos sócios dos seus patrões.
O problema não é novo, nem exclusivo dos poderes maiores desta triste República. Há vinte anos, já questionei aqui mesmo o anúncio do então prefeito de Guarapuava, hoje de volta, de que a Prefeitura tinha tantos e mais tantos milhões em poupança. Eram os tempos pós-Constituição de 1988, com os municípios nadando em dinheiro. A pergunta era: dinheiro do povo é para voltar ao povo em forma de obras e serviços, ou para produzir ganhos extras na especulação financeira? Ganhos extras cuja destinação, evidentemente, nenhuma LRF, TCE, MP e Judiciário alcançam.
Vinte anos depois, tudo como dantes. O mesmo prefeito volta a anunciar uma fantástica sobra de 20 milhões no caixa da Prefeitura. E ainda acrescenta um empréstimo de mais 14 milhões para obras de asfaltamento – obras que todos sabem muito bem como são faturadas. Tudo com a conivência de quem negou aprovação às contas, mudou de lado e as aprovou sem discussão, a um preço que todos conhecem.
Nos estados denunciados pelo Ministério da Saúde, quantas pessoas morreram por falta das verbas desviadas? E aqui, quanto sofrimento e morte essa economia de 20 milhões já causou e vai continuar causando nos postos de saúde, por falta de remédios, de médicos, de salários dignos a servidores – menos os do grupo dos privilegiados cargos em comissão, é claro. E bota comissão nisso.
Para fazer sobrar em caixa esses 20 milhões, há quantos anos estão sem reajuste os professores municipais, esses heróis anônimos eternamente vilipendiados pelo coronelismo do asfalto que assola o Brasil?
Por causa desses 20 milhões, quantos atletas de 22 anos ainda vão morrer por desleixos como o do Joaquim Prestes, que se multiplicam em todas as áreas de infra-estrutura imagináveis da cidade? (Menos nas florzinhas do centrão, lógico).
E aí temos outro mistério – mas nem tanto. Para onde vão esses 20 milhões, se para o asfalto eleitoreiro já estão garantidos os 14 milhões do governo do Estado, cujo titular, aliás, tinha prometido numa campanha anterior, alto e bom som num comício no Pahy, que não mandaria dinheiro para… (vocês sabem).
E, por fim, mais uma pergunta que não quer calar: onde está essa misteriosa “sociedade organizada”, que nunca dá as caras nesses momentos? Está no Ministério Público, no Judiciário, nas associações de moradores, de empresários, nos sindicatos de trabalhadores? No legislativo municipal, apesar de alguns poucos resistentes, sabemos que ela não está. Onde, afinal, que ninguém vê, enquanto o descalabro e a desfaçatez continuam dando as cartas e rindo na nossa cara?
Até agora, a única sociedade realmente organizada que se vê na cidade é a dos doentes nas filas dos postos de saúde, dos bancos, dos ônibus, etc.
São fatos que explicam porque Guarapuava mudou tanto nos últimos vinte anos. Até então, a cidade era conhecida no Brasil, e até no estrangeiro, pela excelência de suas feiras agro-pecuárias, por suas ações revertendo o êxodo rural, pela festa da maçã, pela qualidade de vida que tudo isso começava a trazer, e que enchia o guarapuavano de justo orgulho.
Desde então, Guarapuava só vira notícia nacional na área policial, do baixo IDH, das tragédias. Nessa marcha, o Joaquim Prestes foi apenas a notícia mais recente, mas não será a última.
Mas podem se orgulhar, guarapuavanos. A nossa Prefeitura tem 20 milhões, mais 14 milhões em caixa. Pelo menos até o fim de outubro.

o-o-o-o

BEM BRASIL – I – (*) A propósito da “sociedade organizada” de Guarapuava, e em homenagem à lavra do indignado, corajoso e solitário humorista Mauro Xavier Biazi: “O que me assusta não é o ruído dos maus, mas o silêncio dos bons”.

II – Aleluia! Finalmente boas notícias vindas do Judiciário. Primeira: o STJ acaba de anular as medidas de Gilmar Mendes em favor do banqueiro Daniel Dantas, mantendo o íntegro juiz De Sanctis à frente do processo, baseado na Satiagraha. Segunda: terminou o mandato de Gilmar Mendes na chefia do STF. Agora, só falta reabilitar Protógenes Queiroz, para se acreditar que nem tudo está perdido.

Cristina Esteche

Jornalista

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