22/08/2023
Comunidade Cotidiano Em Alta Região

O som do Natal em Rio Bonito do Iguaçu

Apesar do tornado, os moradores de Rio Bonito do Iguaçu mantêm a esperança de que a cidade vai se reerguer, prego a prego, tijolo por tijolo

Fachada de edificação atingida pelo tornado de 7 de novembro de 2025 (Foto: Thiago de Oliveira/RSN)

Tec, tec, tec, tec. Esse é o principal som ouvido neste fim de ano em Rio Bonito do Iguaçu. Há pouco menos de duas semanas para o Natal, o barulho do martelo divide o espaço sonoro com estridentes serras, escavadeiras e as melodias natalinas. O tec, tec, no entanto, parece não parar.

E o povo não deixa de sorrir. Nos espaços reabertos, no comércio, nas ruas, nos bares. Basta um dedo de prosa, porém, para que a marca indelével do trauma se revele.

O presente mais desejado pelos mais de 11 mil moradores diretamente afetados pelo tornado não está sob árvore enfeitada nenhuma, mas na tão almejada normalidade – palavra há muito abafada pelos sons das ferramentas.

Fachada do Mercado Floriano, que está sendo reerguido (Foto: Thiago de Oliveira)

Memória

As obras avançam. A cidade se reconstrói. Mas e a memória? Dona Rosa Maria da Luz, que perdeu a casa em que morava há 30 anos, relata o desespero e a fé na sobrevivência: “só deu tempo d’eu entrar no quarto antes que a caixa d’água caísse. E a casa dava aqueles corrupio [sic] assim que arrodeava tudo”. Em meio à destruição, ela se agarrou à Bíblia e à convicção de que a sobrevivência foi um milagre de Deus.

Contudo, a perda material se estendeu à capacidade de subsistência. Dona Rosa lamenta ter perdido todo o estoque de seu brechó, que seria a fonte de renda dela para o período festivo: “foi tudo água abaixo, o que seria pra mim no Natal ter um ganho ali pra gente se manter”. A moradora, que está pagando aluguel em Laranjeiras do Sul, torce que a nova casa, viabilizada pelo Programa Reconstrução, seja entregue até o dia 25 de dezembro. “Seria um bom presente”, disse

Próximo ao Mercado Floriano, Dona Rosa observa o lugar onde antes ficava a casa dela (Foto: Thiago de Oliveira)

Economia

Não há cidade sem troca. O impacto financeiro reverberou no comércio e nos serviços, como explica o empreendedor João Celso Brito. Além dos danos físicos em sua automotiva (incluindo forro e telhas arrancadas), o problema mais grave, segundo ele, é o enfraquecimento da economia local, que resultou na queda do movimento, já que a prioridade dos clientes é a reconstrução de suas casas.

“No dia do tornado, a gente entrou em contato com os nossos fornecedores e adiamos os pagamentos. Mas só adiamos. Nós vamos ter que honrar com esses compromissos.”

Para garantir o sustento das mais de 10 famílias que dependem da empresa, João Celso recorreu a um empréstimo sem juros da Fomento Paraná. Nivaldo Cândido, analista da Fomento, confirmou que a instituição está oferecendo empréstimos com 12 meses de carência e até 48 parcelas para pagamento. “Estamos aqui na frente da Prefeitura, a cada três dias, para atender a população. Só sairemos quando se esgotarem as possibilidades ou acabar a demanda por crédito.”

Apoio financeiro

O apoio financeiro inclui o programa Superação, que concedeu R$ 1 mil a mais de 1.810 famílias em situação de vulnerabilidade, e o Cartão Reconstrução, que oferece até R$ 50 mil para a compra de materiais e contratação de mão de obra. A aposentada Rosemari Kruger, que receberá o Cartão Reconstrução, planeja utilizar o valor para consertar a cobertura, trocar móveis, pintar e reformar o interior da casa, que sofreu com a queda da platibanda.

Apesar da pancada do tornado, os moradores de Rio Bonito do Iguaçu mantêm a esperança de que a cidade vai se reerguer, prego a prego, tijolo por tijolo.

O empresário Ivan Carlos Carra, dono de uma loja de materiais de construção, já observa a retomada do movimento comercial após a chegada dos auxílios: “Com certeza a cidade vai ser impactada com esses recursos. Vai ser o primeiro alento para essas famílias”.

Para este ano a normalidade parece um presente de Natal um tanto difícil. No entanto, se o espírito natalino de fato existir, ele está em Rio Bonito do Iguaçu martelando uma parede que alguém poderá chamar de lar outra vez.

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Thiago de Oliveira

Jornalista

Jornalista formado pela Universidade Estadual do Centro-Oeste. @tdolvr

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