Com uma letalidade de até 90%, a febre hemorrágica ebola impõe uma rotina sem contato físico para os habitantes dos três países africanos por onde o vírus se alastra sem controle. Beijos, afagos, abraços, um simples aperto de mão estão proibidos por uma questão de vida ou morte: não há prevenção nem tratamento para a doença, que já matou 337 pessoas desde março, quando teve início o mais letal surto já registrado até hoje.
Na última segunda feira (23), a organização Médicos sem Fronteiras (MSF), a única que oferece atendimento médico na região, declarou que a epidemia estava “sem controle”. Ontem, a Organização Mundial de Saúde (OMS) confirmou que a doença “não está controlada”.
"Esta é a primeira vez que estamos diante de uma epidemia com estas características, com focos ativos em três países distintos e em uma região onde nunca antes havia aparecido o vírus (a África Ocidental)", afirmou ontem a porta-voz da OMS, Fadéla Chaib. A epidemia não está controlada e não estará até que a última pessoa infectada tenha passado 42 dias (período máximo de incubação) sem desenvolver a enfermidade.
São mais de 60 localidades atingidas em Guiné, Serra Leoa e Libéria, entre elas capitais e cidades de grande porte. Desde 1976, quando o vírus foi descoberto na República Democrática do Congo (antigo Zaire), esta é a primeira vez que a doença surge em tantos lugares diferentes ao mesmo tempo, o que dificulta o tratamento e a contenção do surto.
"Chegamos ao nosso limite", afirmou o diretor de operações de MSF, Bart Janssens, em comunicado, lembrando que há 300 profissionais de saúde da organização atuando na área. "Apesar dos recursos humanos e equipamentos já enviados aos três países afetados, não podemos mais enviar equipes para novos locais onde a doença surgiu (recentemente). A epidemia está fora de controle e há um risco real de proliferação para outras regiões".
LARGA ESCALA
No passado, os surtos foram registrados em pequenas localidades no meio da floresta ou em áreas rurais muito isoladas, o que facilitava a contenção.
"Agora, o caráter do surto é inteiramente diferente", sustenta a infectologista da Fiocruz Valdilea Veloso. "Há vários casos já registrados em capitais, onde vivem muitas pessoas aglomeradas, onde há aeroportos, além de pobreza, falta de equipamento e de conhecimento. O potencial de transmissão é muito maior. É preciso um esforço coordenado de diferentes instituições para que a mensagem chegue rápido ao maior número possível de pessoas. É difícil que uma organização consiga fazer isso sozinha."