22/08/2023
Blog da Cris Guarapuava

Pacto inesperado!

Baitala (PL) e Dr. Antenor (PT) ignoram a 'guerra partidária nacional' e selam uma aliança histórica pela reversão de área militar

Momento em que Baitala intima Dr Antenor (Foto: Valdir Amaral/Alep)

O desafio lançado pelo prefeito de Guarapuava, Denilson Baitala (PL), ao deputado estadual Dr. Antenor (PT), para unirem forças na busca pela reversão de uma área do Exército para a construção de três mil casas, é um movimento político notável e merecedor de análise. A iniciativa, que culminou na aceitação do desafio por Dr. Antenor, configura uma parceria inusitada entre PL e PT. Partidos que foram adversários ferrenhos na eleição municipal, onde Baitala venceu o petista por uma margem mínima.

Assim sendo, essa articulação pode ser interpretada de múltiplas maneiras no tabuleiro político local e estadual. A iniciativa de Baitala, de “intimar” publicamente o principal adversário a se juntar à causa, tem sido lida como um gesto de humildade. E também de elevação dos interesses da população acima das disputas eleitorais. Ao fazê-lo, o prefeito consegue um duplo impacto. Ele legitima a causa colocando a necessidade de moradia popular em um patamar de urgência e consenso. Ponto que dificulta a oposição ao pleito.

De outro ângulo, há a neutralização da oposição, uma vez que traz para junto de si um adversário forte e com trânsito em Brasília. Vale lembrar que a reversão da área da União depende do Governo Federal, liderado pelo PT. Dessa forma Baitala transforma uma potencial barreira em um ativo, surpreendendo até mesmo quem desacradita nele.

O discurso de que “vai além de bandeiras partidárias, mas que enquanto prefeito pensa na população” ressoa fortemente com a promessa de campanha de administrar para a população mais vulnerável. Contudo, é fundamental reconhecer o pragmatismo por trás dessa atitude. Para que o projeto de moradia se concretize, a ajuda de um parlamentar da base aliada federal é praticamente indispensável. Afinal, trata-se de uma promessa eleitoral de peso. A ‘humildade’ é, portanto, uma tática eficiente para viabilizar um projeto de grande impacto social e político.

ABERTURA

Por outro lado, a conduta de Baitala, que vem se mostrando um prefeito aberto ao diálogo, indo onde o povo está, sinaliza um discurso e atitude populista no sentido mais literal do termo. Isso porque há aproximação com o povo e a priorização de pautas que tocam diretamente a vida da base. A carência histórica de lideranças políticas que atuam nesse ‘pé de igualdade’ com a comunidade, torna essa postura especialmente agradável ao guarapuavano.

Esse contato direto e a priorização de questões como a moradia, cujo déficit em Guarapuava é significativo, criam um capital político imediato. Reforça a imagem de um gestor sensível e atuante, o que é crucial após uma vitória apertada nas urnas.

Entretanto, o risco do populismo é a dificuldade em sustentar a proximidade e o ritmo das grandes entregas. O desafio não é apenas aceitar o diálogo. Mas converter o diálogo e a parceria em resultados concretos, como a efetiva liberação da área do Exército.

FOCO NO INTERESSE PÚBLICO

A aceitação do desafio por Dr. Antenor, representando o PT, demonstra uma maturidade política que transcende a rivalidade eleitoral. Ao endossar a relevância da moradia popular e se engajar ativamente na articulação com a União, o deputado reforça a imagem do partido como um ator político focado no interesse público e nas políticas sociais. Entra em consonância com o programa federal Minha Casa Minha Vida.

Essa parceria inusitada entre PL (ligado ao bolsonarismo) e PT (ligado ao lulismo) é um forte indicativo de que, em âmbito municipal, as necessidades da população podem forçar alinhamentos que seriam impensáveis em esferas superiores de poder. O foco na moradia digna para três mil famílias sobrepõe-se à disputa ideológica, configurando um exemplo de como o pragmatismo municipal pode desarmar barreiras partidárias em prol de um bem comum.

Em suma, a articulação Baitala-Antenor é um movimento político astuto do prefeito, que, ao se mostrar ‘humilde’ e ‘populista’, conseguiu engajar um adversário crucial para viabilizar um projeto eleitoral de alto impacto. Ao mesmo tempo, é um sinal positivo de que o deputado soube separar a rivalidade da eleição da necessidade de atuar em parceria pelo desenvolvimento social da cidade.

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Cristina Esteche

Jornalista

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