22/08/2023
Segurança

Página do Facebook sobre presídio gera investigação em Ponta Grossa

Uma página criada no Facebook foi alvo de investigação interna, em janeiro, no Presídio Hildebrando de Souza, conhecido como Presídio Santa Maria, em Ponta Grossa, região dos Campos Gerais do Paraná. Segundo a direção da unidade, o nome do perfil no site – "Top's do presídio santa maria" – despertou curiosidade. As postagens mencionavam detentos e mostravam fotos da prisão. A página ficou no ar por duas semanas, mas foi retirada por motivo desconhecido, segundo a investigação.

Criada no dia 16 de janeiro, a página mostrava um pouco da rotina vivida na cadeia. "Bom dia, nada melhor que amanhecer vendo o sol nascer quadrado" e "22:00 toque de recolher rapaziada amanhã tamo na ativa novamente" eram alguns dos posts. No entanto, o que instigou a direção do presídio foram as publicações de fotos e nomes de prováveis detentos, imagens de um ex-preso morto, armas e munições, além da citação do uso de internet dentro das celas. "Salve irmandade, tivemos um imprevisto na net do nosso cercadinho, mas já voltamos a ativa", dizia uma das publicações.

De acordo com o diretor da unidade, Bruno Propst, assim que ele tomou conhecimento da página, repassou a situação para o Serviço de Inteligência do Departamento de Execução Penal do Estado do Paraná (Depen-PR).

"Foram analisadas todas as fotos, as pessoas que entraram no site, quem curtiu os comentários e a página, e comparamos com os cadastros de presos e visitantes", revela. Até os últimos dias em que ficou no ar, a página contava com mais de 460 integrantes.

Segundo Propst, a investigação não conseguiu identificar nenhuma pessoa de dentro do presídio que tivesse relação com a página. "Pode ter sido alguém que já passou por aqui e tenha conhecimento de como as coisas funcionam dentro do presídio. É 99% de certeza que essa página não foi feita ou movimentada aqui de dentro", afirma. Como o site foi retirado nos últimos dias de janeiro, o diretor diz que a investigação deve agora ser finalizada e encaminhada às autoridades responsáveis.

Sem a comprovação do envolvimento de presos de Santa Maria com a página do Facebook, a princípio nenhum detento, visitante ou pessoas que acessaram a página serão penalizados, de acordo com o diretor do presídio.

"Possivelmente, foi alguma brincadeirinha para desestabilizar nosso trabalho", acredita.

O advogado Rauli Gross, um dos representantes do Conselho de Segurança dePonta Grossa, explica que, caso tivesse sido comprovada alguma relação do perfil com os detentos, eles poderiam ser penalizados.

"Eles não podem ter acesso a celular e internet na prisão. Por esse motivo, quando existe confirmação de uso, o preso pode receber uma falta disciplinar, como a regressão do regime penal, aumentando os dias na cadeia ou, ainda, ser enquadrado em um comportamento ruim", esclarece o advogado.

Já as pessoas que criaram a página ou curtiram comentários só poderiam ser punidas criminalmente se estivessem fazendo apologia às drogas ou armas, incitação à pedofilia, se usassem o site para trocar informações criminosas ou para organizar crimes, enumera Gross.

Assim como o diretor do presídio, o advogado também acredita que a página tenha sido criada por brincadeira.

"As fotos utilizadas podem ter sido pegas de um site qualquer e postadas na página. Pode ter sido criada por pessoas que não tinham noção do que poderia acontecer. Quando viram que tomou uma repercussão, decidiram tirar do ar", comenta.

Cristina Esteche

Jornalista

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